Natália daria tudo para ver a cara de tonto do Rodolfo. Àquela hora, provavelmente, já tivesse recebido o seu presente de amigo secreto. Pensou que ele fosse telefonar para xingar-lhe ou coisa parecida, mas não, ele deve ter pensado que era mais sensato ficar calado, seria muito mais apropriado para ele. Ela, agora, começava a se sentir melhor com a perspectiva dos seios novos e a lembrancinha para Rodolfo, praticamente nada, comparado ao que ela faria com aquele calhorda, aquilo seria somente algo para atê-lo a ela.
Em casa sentou-se ao computador porque sentia que sua caixa de e-mails deveria estar cheia. Acertou na mosca, era tanto e-mail que teve que sair escolhendo qual responder porque sabia, não teria tempo, nem paciência para responder a todos. Assim encontrou o e-mail da Liga das Mulheres Iludidas, um grupo de mulheres que se uniram depois de serem abandonadas no altar por algum noivo sem caráter. Elas haviam se unido em 2002 sob um slogan esquisito, Free and Love to forever, o que parecia contradizer o que elas defendiam. Mas não quis perder tempo com aquilo. Entrou no Google e procurou uma cabeleireira especializada, precisava estar em dia para quando tivesse os seus novos seios. Logo encontrou o telefone de um salão do qual já ouvira falar – onde tudo era caro, mas era o melhor. Pegou o telefone e ligou marcando um horário para a parte da tarde, às três horas da tarde, mas o tempo voou, ela nem percebeu, quando deu por si, saiu correndo para o salão. Foi de taxi novamente, não teria tempo para um ônibus. No meio do caminho foi pensando até que ponto chegaria o dinheiro do seu acerto, com FGTS e tudo, afinal tinha gastado todo o seu acerto e um pouco mais com os seios, agora teria que entrar no cartão de crédito.
Entrou no salão e um gay veio atender-lhe. O salão fazia jus à fortuna que cobrava, estava certa de que nunca entrara em um salão tão bonito, chique e requintado.
Sentou-se na cadeira, um gayzinho deu a volta em torno dela observando o seu cabelo.
- Menina, seu cabelo está um bagaço, precisamos concertar isso, antes de qualquer coias.
- Pode fazer o que quiser. Você tem ótimas referências e eu entrego meus cabelos em suas mãos.
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Rodolfo ficou olhando aquela caixa e sentiu receio em abri-la. Alguma coisa naquela história não estava lhe cheirando bem. Chacoalhou-a novamente tentando adivinhar o conteúdo, mas depois de mais alguns segundos notou que seria impossível, sem abri-la. Mas ele estava com medo de que fosse alguma brincadeira idiota, uma bomba, algum atentado químico, qualquer coisa desse tipo. Sabia que Natália estava possessa com ele, e, pelo pouco que a conhecia, sabia muito bem que ela poderia querer aprontar com ele. Só pela forma com que fora expulso da casa da garota podia deduzir que a partir daquele dia ele teria que andar com os olhos nas costas para não correr o risco de ser atingido sem saber. Ele precisava se explicar, afinal não tivera culpa, quer dizer... tivera, mas fora à base de chantagem... Se pelo menos tivesse sido homem... Ele gostava da Natália, não deveria ter permitido que aquilo acontecesse... Mas agora era tarde demais para chorar pelo leite derramado, fora um grande traidor, vendera a mulher com quem estava e a sua honra por conta de erros que cometera no passado... Se sua mãe estivesse viva certamente haveria de arrancar-lhe o saco fora, depois de uma coisa como aquela! Que arrependimento!
Sentou-se no sofá com a caixa ainda nas mãos. O que seria aquilo? Quem lhe enviara. Seria mesmo Natália? Ou será que ele estava vendo fantasma onde não existia? Estaria impressionado com aquele olhar demoníaco que ela lançara sobre ele da última vez em que se encontraram? Ela estava com ódio, podia muito bem estar querendo se vingar nesse momento. Mas o que ela poderia fazer? Aquilo era uma simples caixa, Natália não era nenhuma perita em bombas caseiras e aquilo não estava lhe parecendo uma bomba, se bem que nunca tinha visto uma bomba e nem sabia se realmente alguém teria conhecimento e habilidade para montar uma bomba dentro de uma caixa que não pesava mais de trezentos gramas. Não, deveria ser paranoia, certamente aquela caixa poderia ter sido enviada por alguma admiradora secreta... Sim, bem que poderia. Afinal tinha algumas mulheres naquele prédio que o olhavam de forma bem apaixonada, talvez, alguma estivesse tentando conquistá-lo daquela forma. Por que não? Já recebera cartas anônimas uma dezena de vezes quando estudava, isso era perfeitamente cabível.
Cansado de suas conjecturas resolveu abrir a caixa de uma vez, afinal, fosse o que fosse, ele teria que abrir, já sentia a curiosidade o sufocando. Retirou a fita que vedava a caixa. Até segurou a respiração, não sabia se de aflição ou medo de ter algum veneno. Quando abriu a caixa ficou entre pasmo e surpreso, havia um pequeno pedaço de pano que embrulhava algo. Segurou o pano e lentamente foi desenrolando-o. E lá estava um pequeno saquinho de plástico e um pedaço de papel. Olhou o saquinho, mas pegou o papel que certamente elucidaria aquele mistério. Abriu-o e encontrou uma letra bem desenhada, o seu nome abria a mensagem.
Prezado Rodolfo,
Você se ferrou!
...
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