- O que esse cara está fazendo aqui? Fora da minha casa, já.
Natália não via Rodolfo desde aquela maldita noite e sua vontade era a de estrangular aquele ordinário, sem caráter, que se aproveitava de uma droga para fazer o que fez. Embora aquilo tudo ainda estivesse muito confuso em sua cabeça, sem a certeza de que tudo acontecera de fato. Mas ela sabia que sim, tinha acontecido, o vídeo não podia mentir, ela, uma mulher que sempre levara a vida de forma honrada, agora desfilava por computadores como uma libertina fazendo com que algumas pessoas pensassem que aquilo tinha sido bom. Não se lembrava de praticamente nada. Não, aquele cara não poderia ter feito isso com ela, eles estavam juntos há tão pouco tempo, mas parecia uma pessoa honrada. Se tivesse pensado naquilo que sua mãe sempre lhe dissera - As aparências enganam. E ela que se achava tão esperta... Vivida, caíra num golpe sujo como aquele.
E agora essa... Encontrar aquele pulha sentado no sofá de sua casa como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse sido um canalha.
- Vamos, eu já disse - tornou a gritar. – Fora de minha casa, agora, senão vou chamar a Polícia.
- Natália, você precisa me ouvir, eu não...
- Fora!
- Natália, mas eu...
Rodolfo levantou-se tentando se fazer ouvir, mas Natália gritava enquanto o empurrava porta a fora. Quando o viu no corredor, bateu a porta em sua cara sem lhe deixar dizer mais uma palavra. Depois encarou sua mãe.
- A senhora não deixe mais esse calhorda colocar os pés dentro dessa casa, mamãe.
- É que eu pensei... ele parecia arrependido....
- Eu não quero vê-lo mais aqui, mamãe. Ouviu? Se ele insistir, chame a polícia.
Natália correu para o seu quarto e jogou-se na cama, estava realmente triste, desolada, perdida. O que é que havia acontecido com sua vida? Por que aquele cara tinha feito isso com ela? Ela se sentia pequena. De repente ela queria sumir, desaparecer para sempre da face da Terra. Como se fosse possível. No fundo sabia, nada do que fizesse poderia realmente eliminar aquele sentimento de vazio que havia dentro dela. Chorou.
A nossa pequena revolucionária que levantava a bandeira feminista contra homens ordinários que se aproveitavam de alguma droga para abusar de uma mulher, sentia-se fraca diante do seu adversário. Ele não sabia o mal que havia causado a ela, não era capaz de imaginar...
Naquele dia não quis jantar, não mais saiu do quarto. Só o fez no dia seguinte, quando foi acordada pelo telefonema de uma mulher.
Natália tateou o chão em busca do celular que tocava insistentemente.
- Oi - disse ainda sonolenta.
- Natália? Eu quero topar essa briga.
- Do que você está falando?
- Eu sou presidenta da Liga das Mulheres Iludidas e vi o seu chamado para a luta. Pode contar com o nosso grupo...
- Espera um pouquinho, não estou entendo nada do que a senhora está dizendo.
- Estou dizendo que sei justamente o que fazer. Você pode contar comigo se precisar fazer um protesto.
- Protesto?
- Não é um protesto que vocês irão fazer?
- Não, vamos nos vingar – disse Natália vendo que não poderia mais ficar parada. A dor jamais passaria e ela precisava de um motivo maior para se lembrar daquele fato sem se sentir humilhada e triste. Levantou-se. – Olha, eu não sei o que a senhora quer exatamente, mas seja o que for, mande-me um e-mail. Depois eu respondo, agora eu preciso levantar minha autoestima.
- Entendo, você deve estar sofrendo muito. Quer ficar sozinha, não? Eu passei por coisa parecida.
- Não, eu vou colocar silicone hoje.
- Mas você passa por tudo isso e pensa em colocar silicone dias depois? Não estou entendo...
- Isso faz parte da minha vingança.
- Eu vou lhe enviar um e-mail, tenho algumas ideias que podem lhe ajudar. Vamos lutar unidas.
- Sim, claro. Agora tenho que desligar.
Natália tomou banho, correu para clínica. Era a hora de começar a fazer seus exames. Saiu igual a um foguete, nem deu bom dia para a mãe. Em pouco tempo tinha feito todos os exames.
- Amanhã a senhora poderá saber os resultados. Dependendo, sua cirurgia poderá ser amanhã mesmo.
- Tudo, bem. Obrigada.
Ela saiu da clínica certa de que a partir do dia seguinte muita coisa em sua vida seria diferente. Pegou o celular e discou para um número. Uma mulher atendeu.
- Você já localizou todos eles? – perguntou.
- Sim. Tenho tudo sobre todos e estou ansiosa para começar.
- Então dê o primeiro passo. Faça como eu lhe expliquei. Ele estará em casa. Por enquanto eu ainda não posso participar. Na semana que vem é que a coisa vai acontecer de verdade, agora é só um aperitivo.
- Entendi, sim. Vou fazer o combinado agora mesmo.
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Rodolfo estava em seu apartamento quando a campainha tocou. Foi atender de cueca, tinha acabado de se levantar.
- Sim – disse ele vendo que era uma entregadora.
- Senhor Rodolfo, encomenda para o senhor.
- De quem? Eu não pedi nada.
- Não está escrito o remetente.
- Tudo bem.
Ele assinou o papel como prova de que recebera a encomenda e depois fechou a porta com a caixa nos braços. Era uma encomenda estranha, ainda mais por ser anônima. Tentou analisar e descobrir o conteúdo antes de abri-la. Chacoalhou e não obteve nenhum som que pudesse dar-lhe a menor ideia do que fosse. Lembrou-se da entregadora, ela não usava uniforme. Teve um mal pressentimento.
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