A mulher que odiava os homens - 4 - quero ter peitões

Como trabalhava no centro da cidade não precisou pegar taxi nem ônibus para chegar a alguma clínica. Entrou na clínica do Dr Bernardo Nogueira, um cirurgião de renome, famoso pelos milagres estéticos que fazia sem fazer desaparecer todo o dinheiro do bolso do cliente. Uma secretária linda de peitos enormes a atendeu. Natália sentiu-se um pouco humilhada ao ver o tamanho dos peitos da moça. Mas se recompôs pensando que não podia deixar uma coisa como aquela tirar-lhe a autoconfiança.

- Bonitos seios – disse à moça. – Os meus ficarão assim.

- Os meus são naturais, querida. No que posso ajudá-la?

Depois de uma resposta como aquela só ela lhe fornecesse uma corda. Como poderia ser natural dois montes enormes daqueles?

- Eu quero ter peitões.

- Então veio ao lugar certo.

- Quanto custa?

- Depende do quanto a senhora vai querer.

- Senhorita, por favor.

- Sim, senhorita, depende do quanto vai querer.

- Eu quero colocar um tanto para que os meus fiquem mais ou menos do tamanho dos seus.

- Ah, sim. Vou fazer-lhe um orçamento. Sente-se.

Natália sentou-se hipnotizada pelos peitões da moça. Se os dela ficassem iguais, talvez muita coisa em sua vida fosse diferente. Teria provavelmente uma legião de homens apaixonados, andaria de carro com os peitos à mostra só para atormentar os motoristas desavisados. Faria topless na vinda do Papa e seria presa por atentado ao pudor, seria conhecida no mundo inteiro como a mulher que queria tentar o Papa. Viu-se desfilando pelos canais de televisão que pagariam barris de dinheiro pela exclusividade da história da mulher que quis seduzir o Papa. Sorriu. 

A secretária entregou-lhe um papel.

- Aqui, está, senhorita? Não me disse seu nome.

- Boufarat B-o-u-f-a-r-a-t, Natália Boufarat.

- Sim, Senhorita Boufarat, aqui está.

Quase caiu da cadeira ao ver o tanto de números que havia naquele papel; era uma verdadeira fortuna. Teria muita sorte se o dinheiro do seu FGTS desse para cobrir aquilo, mas sinceramente, não acreditava que fosse possível. Mas sorriu à moça.

- Muito bem, pensei que ficasse mais caro – disse tentando ser descontraída e não parecer tão chocada.

Mas a secretária já estava acostumada com aquele bando de pobres, sonhadoras, pensando que colocar silicone era como fazer a unha. Ela conhecia pobre pela cara. E aquela não podia ter mais cara de pobre. A começar pelo seu cabelo maltratado, cheio de pontas duplas, ressecados, descolorido nas raízes. Só por aquilo já podia muito bem deduzir que tipo de pessoa era aquela. E observando bem ela não lhe era estranha, desde que aparecera ali na clínica tinha a impressão de já conhecê-la. Mas de onde?

- E qual o tempo que é preciso esperar para conseguir a minha cirurgia? – perguntou Natália.

- É rápido, só precisaremos fazer alguns exames, depois dos resultados é questão de di... ei... eu a conheço de algum lugar?

- Que eu me lembre, não.

- Desculpe-me, mas estou sentindo que existe algo muito familiar em você.

- Deve estar me confundindo com alguém.

 - Não... eu me lembro... lembrei... é da internet. Agora tenho certeza, era você.

- Eu na internet?

- Era sim, a paulistana que gostava de festinha. Meu namorado adora assistir uns filminhos e vimos o seu nesse final de semana.

- Não, tenho certeza de que está me confundindo com alguém.

- Impossível. Se não era você era uma irmã gêmea.

- Você não acha que se eu tivesse feito um filme pornô eu me lembraria.

A secretária percebeu que estava sendo inconveniente, afinal mal conhecia a mulher e não tinha certeza de que ela fora parar lá porque quis.

- Claro, posso ter me equivocado. Queira me desculpar.

- Tudo bem. – respondeu Natália que já estava impaciente. Acreditou que a tinha enganado e isso a aliviava. Agradeceu e foi embora.

Continua....

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