O que mais a chateava naquele momento era o fato de as pessoas poderem apontar-lhe na rua como a libertina da internet. Aquele maldito Rodolfo haveria de pagar caro por aquilo, traste ordinário.
Saiu do consultório. Depois de mais de uma dezena de abordagens na rua por pessoas dizendo que a viram na internet, chegou a sua casa. Sua mãe estava sentada assistindo televisão.
- Natália?
- Sim, mãe.
- O que está fazendo em casa a essa hora?
- Eu não tenho mais serviço, mãe – disse ela vindo até a sala. – Fui demitida.
- Como assim, demitida?
- Demitida, mandada embora.
- E agora, minha filha, o que vai fazer?
- Fique tranquila, mãe. Tenho Seguro Desemprego, antes de terminar eu já me arrumei.
- E por que mandaram você embora? É por causa do negócio da internet?
- É o que mais se fala pela rua. Que coisa feia, minha filha, nunca pude imaginar...
- Eu não fiz por vontade própria, colocaram droga em meu copo.
- Você já foi à polícia?
- Não. E nem vou, vou me vingar com minhas próprias mãos.
- Mas, Natália...
- Deixa-me, mãe, não estou legal.
E Natália foi para o seu quarto. Precisava ficar sozinha, pensar em tudo aquilo, elaborar melhor sua vingança.
Mas de tanto pensar acabou adormecendo.
Quando acordou, como por milagre, já tinha tudo em sua mente,
Levantou-se, foi até o computador, entrou num site de relacionamento e escreveu.
“Mulheres que foram enganadas por homens, eu sei como nos vingarmos. Entrem em contato.”
Depois escreveu um e-mail e enviou a todos os seus contatos. Não satisfeita, ligou para uma rádio local e mandou que anunciasse o seu protesto. E em quase todo intervalo comercial uma voz de mulher dizia:
- Minha amiga, você foi enganada por um homem? Venha participar do Grupo das Enganadas. Mais informações mulheresenganadas@algumacoisa.com.
E num só dia recebeu mais de 1000 e-mails de mulheres que foram enganadas, roubadas, estupradas, filmadas ilegalmente, e toda a espécie de sujeira a que alguns homens se prestam a fazer com uma mulher. Ela escolheu os casos que mais combinavam com o seu e enviou-lhes um e-mail com o seu telefone. Horas depois não dava conta de atender tantas ligações. Por fim, no final de três dias ela tinha um grupo de 10 mulheres enganadas prontas para se vingar dos seus ex-companheiros, mulheres que estavam disposta a tudo pela vingança, inclusive ir parar detrás das grades. Marcou uma reunião em sua casa na semana seguinte. Ela precisava do silicone antes.
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O Júlio não conseguia entender como uma pessoa podia mudar tanto da noite para o dia. Natália passou por ele como alguém passa por um cão sarnento quase desviando e com nojo. Era uma menina tão legal... Isso deveria ser por causa do vídeo que as mulheres estavam comentando no dia anterior. Tentou entender como deveria estar a cabaça daquela mulher que viu sua intimidade exposta sem escrúpulos, certamente andava a pensar que todos a queriam molestar ou cantá-la ou, até mesmo, que fossem passar isso em sua cara pelo resto da vida. Isso explicava aquela súbita mudança. Ficou olhando calado aquela menina magra e bonita que entrava na empresa vestida para matar – saia curta e justa, cabelos soltos e blusa sem sutiã.
Foi assim que Natália penetrou o escritório do patrão novamente, com ar de superioridade de quem era a dona do mundo.
- Não precisa falar nada, Dona Natália – adiantou-se seu patrão. – Seus papéis estão prontos, fale com a Dona Marta do RH.
- Melhor assim- disse ela virando as costas.
- Dona Natália? - ela virou-se para encarar o patrão. - A propósito, eu não sabia que a senhora era aquela louca desvairada. Adorei o seu vídeo.
- Vai se danar – respondeu ela saindo.
Continua....
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2 comentários:
Não consigo escrever de tanto rir... a começar pelo e-mail @...
Devo ter sangue de revolucionária, pois entrei de tal maneira na leitura do teu conto...que estou pensando seriamente em criar um movimento...
É demais de interessante, você narra de uma maneira, consegue entrar na mente da personagem, sentir o que ela sente....Isso me deixa encantada.... para não dizer outra coisa....
Ansiosa pela continuidade...
Beijo!
Mara Nobre
Mara, o mérito não é meu, são essas personagens malucas que entram em minha mente e narram-me suas histórias loucas. Só não espalha isso porque posso terminar num hospício.
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