A mulher que saiu daquele salão de cabeleireiros era uma deusa. Por onde passava as pessoas a observavam. Homens torciam os pescoços até não poderem mais e as mulheres a olhavam morrendo de inveja. Que mulher linda! Que cabelos maravilhosos! Nunca tinham visto nada igual, a não ser na televisão, mas na televisão sabiam que as mulheres contavam com uma infinidade dos melhores profissionais do país, além de uma ajuda extra da tecnologia que era o que mais influenciava. Mas ali na rua, andando como um ser humano normal, era muito raro encontrar uma mulher tão bonita e atraente.
Por onde passava, as pessoas se cutucavam para falar sobre ela. E Natália sentiu-se uma Julia Roberts em Pretty Woman, depois de um banho de loja. Sim, finalmente, teria o mundo aos seus pés. Pena que a sua ideia de satisfação não se resumisse a encontrar um bom relacionamento, mas, sim, vingar-se daquela raça impura e sem caráter - os homens. Pelo menos era um bom motivo para estar daquela forma.
Passou por um senhor de bengala que de tanto torcer o pescoço acabou desequilibrando-se e caindo pesadamente na calçada. Ela sentiu pena do pobre homem e tentou ajudá-lo.
- Moça do céu, você é muito linda! - disse o ancião de quase oitenta anos. – Em toda a minha vida nunca vi mulher mais linda do que você.
- Obrigada – disse ela um pouco sem jeito com o elogio.
O velho se levantou e ela saiu andando contente com os elogios. Era assim mesmo que queria ser vista a partir daquele dia, como uma mulher linda, linda e fatal, mas o fatal ficaria a cargo do Rodolfo conhecer. Poderia esperar. Agora só faltava o silicone para se sentir uma mulher realmente “pronta para matar”. Riu de seu pensamento e continuou pelas ruas chamando a atenção de todos. Ela estava começando a gostar daquele seu poder de beleza. Sentia-se invencível. Para experimentar entrou num estúdio de modelos que havia ali perto.
- Bom dia – disse ela para uma secretária.
- Sim.
- Eu gostaria de saber como posso ser modelo nessa agência.
A mulher a mediu.
- O primeiro quesito você já possui. É muito bonita! – disse a moça levantando-se e indo por-se ao seu lado. - O Samuel que é responsável pela contratação das modelos, mas ele não está nesse momento, se você me permitir vou tirar uma foto sua e pegar o seu telefone, quando ele chegar peço para entrar em contato, tenho certeza de que ele vai querer você aqui na agência.
- Tudo bem – disse ela.
A mulher preparou uma câmera e tirou algumas fotos, depois entregou-lhe um cartão.
Natália saiu satisfeita da agência, realmente agora poderia se considerar uma mulher bonita; bonita não, linda. Tinha conseguido impressionar alguém de uma agência de modelos. Saiu rindo pela rua e não parou de rir até entrar em casa.
Quando chegou ao portão ouviu alguém lhe chamar. Virou-se e deu de cara com Rodolfo parado num muro, os braços cruzados, pensou em fingir que não tinha ouvido, nem visto, mas ele adiantou-se percebendo a sua estratégia.
- Eu já disse que vou chamar a polícia – disse ela antes que ele se aproximasse demais.
Quando chegou bem perto foi que Rodolfo viu a transformação daquela mulher. Ela estava linda! Se bem que já a achava bonita antes, mas agora estava demais. Refez-se do choque de encontrá-la tão bem.
- Você vai me ouvir, Natália. Agora.
Natália o encarou e viu dentro de seus olhos uma marca de sangue, sabia que contrariá-lo poderia não ser uma atitude sensata.
Continua amanhã...
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