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domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Livro de um náufrago 9 – as coisas começam a dar certo


Mulher mais louca aquela! Eu não tinha lhe feito nada para que ela estivesse daquela forma, toda estressadinha. Só podia ser mesmo TPM. Eu já tinha visto mulheres ficarem fora de controle de TPM, mas como aquela ainda não. Segurei as suas mãos e a retirei de minha camisa o que, vou confessar, deu certo trabalho, a mulher era realmente forte, ou eu era realmente fraco. Liberto, voltei a minha labuta para terminar o meu abrigo antes da noite cair e juntar paus suficientes para queimar durante toda aquela noite.
Quando o sol esfriou e começou a desaparecer engolido pelo mar eu, de posse de uma vara de bambu que havia preparado, corri até as pedras onde havia algumas lagoas na quais eu tinha visto alguns peixes nadando, a minha ideia era fisgar algum, assá-lo e comer, mesmo sem sal seria o mais próximo que eu poderia chegar de uma refeição decente naquela ilha.
Vou confessar que não foi muito fácil pescar três peixinhos. Limpá-los foi ainda mais difícil. Quando estava realmente escurecendo foi que consegui terminar de limpar, coloquei os peixes limpos numa pequena cumbuca com água do mar na esperança de que aquilo pudesse dar um pouquinho de gosto ao peixe e fui tentar acender a fogueira, o que foi até relativamente fácil, porque o isqueiro funcionou. Ainda bem que eu andava com aquele isqueiro, eu conseguira parar com o hábito de fumar, mas vivia com isqueiro no bolso, só não me pergunte por que. Eu o ganhara de minha avó há alguns anos, fora a última vez que a vira viva e com saúde, depois disso ela se fora e eu continuei com o isqueiro no bolso. E quem diria que um dia ele seria útil?
Quando as primeiras labaredas surgiram, a noite já tinha caído por completo. As meninas, revoltadas, afastaram-se da barraca. Mas eu sabia, mais cedo ou mais tarde, voltariam como moscas atraídas pelo cheiro do peixe assando.
Improvisei um espeto de bambu, enfiei-o no peixe e o coloquei sobre um jirau improvisado. Até eu próprio estava impressionado comigo mesmo, com a minha sabedoria. Logo, o cheiro de peixe assado tomou conta da praia. Embora eu pudesse prever que a falta de tempero não o deixaria com o gosto muito bom, eu também entendia que a fome fazia qualquer coisa se tornar saborosa. Sentei-me na areia quente ainda e fiquei esperando o peixe assar. Eu não tinha pressa. Não estava com tanta fome assim, a minha maior fome era a que eu sentia por aquelas mulheres. Logo a primeira mosquinha apareceu, sentou-se ao meu lado. Era a Luana.
- Você e bem esperto!
Eu olhei para ela, estávamos iluminados apenas pela luz emanada pela fogueira, mas pude notar que ela estava sendo sincera e não querendo se aproveitar. Sorri. Um vento álgido começara a soprar e ela, era nítido, estava com frio. Gentilmente, intencionalmente, retirei minha camiseta e dei a ela.
- Não precisa -  agradeceu.
- Como não? Você está toda arrepiada de frio. Vista, eu não estou com frio.
- É, na verdade, sou muito friorenta.
- Então vista.
Ela vestiu a camiseta e eu pude ver a gratidão em seus olhos.
- Você está a fim de jantar comigo? – perguntei sorrindo.
- Não, sei - disse ela - tenho medo de tudo aquilo feito por mãos de homens, e se você conhecesse os dotes culinários do meu último namorado iria entender porque.
- Entendo e acho que aqui a coisa não será diferente, mas para quem está com fome é possível disfarçar bem com isso aqui.
Ficamos quietos por alguns instante certamente ambos olhando em direção onde deveria estar a terra firme.
- Não é engraçado? – perguntou ela.
- O quê?
- Nós estarmos sozinhos e isolados tão próximos de civilização e ao mesmo tempo tão longe.
- Eu não tinha pensado nisso. Acho que é mais trágico do que engraçado.
- Você é um cara legal!
- Não sou não.
- É sim, acho que os nossos santos bateram.
- Só sou legal com quem é legal comigo.
- Todo mundo é assim. – fez uma pausa. – Você tem namorada?
- Não.
- Mas você não disse que...
- Você acha que eu iria ficar por baixo?
- Entendi.
- E você? – perguntei e logo depois refazendo a minha frase. – Claro que tem, uma mulher tão linda como você deve ter uma legião de fãs que daria a própria vida por um beijo.
- Engano seu. Não tenho namorado. Às vezes, aparece um ou outro, mas na grande maioria só me querem porque eu sou a Luana Petrarca e não pelo que eu tenho de meu, digo, por causa da minha cabeça, do meu coração. Esse mundo é esquisito.
- Eu que o diga. Ontem eu tinha a sua foto pendurada na parede do meu quarto, hoje tenho você ao meu lado, nunca pensei que eu poderia dizer isso, mas nunca senti tanta alegria por causa de uma tragédia.
- Não credito que você tem uma foto minha em seu quarto.
- Uma não, tenho duas, enormes. Sou seu fã.
- Você quer um autógrafo?
Nós rimos muito enquanto conversávamos sobre tudo. Eu fiquei conhecendo aquela mulher de forma mais intima e aquilo só me deixou mais apaixonado ainda.  Entretido em contemplar o seu sorriso, o seu rosto e vê-la dentro da minha camisa fez com que eu me sentisse o homem mais sortudo do mundo. Ficamos tão entretidos que até mesmo esqueci-me do peixe e quando me lembrei, ele já estava quase queimando. Retirei- do jirau e o pus sobre uma folha de bananeira, voltei ao lado de Luana.
- O jantar está pronto.



assista o vídeo
102 maneiras de olhar Fernando de Noronha 




Mundo Curioso


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