Blogs Parceiros - os melhores

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Livro de um náufrago 10 – Luana desapareceu


Não posso negar que o peixe estava horrível sem contar que não deveria ser o peixe certo para se comer. Mas para quem não tinha comido mais do que bananas durante todo o dia, acho que dava para enganar o estômago. Foi uma farta refeição. Dos três peixes assados não tínhamos comido nem um inteiro.
- Luana, você fica aqui um pouquinho?
- O que você vai fazer?
- Levar esses dois outros peixes para as meninas.
- Ah, sim, claro, eu sabia que você tinha bom coração.
Apanhei os dois peixes na folha de bananeira e cortei a escuridão da praia em direção onde estavam as meninas sentadas. Ao me verem fingiram que eu não estava chegando, elas estavam bravas porque eu era fominha, só arrumara comida para mim mesmo. Estendi os peixes.
- O que vocês acham de um peixinho para o jantar?
Elas ficaram todas animadas e partiram para cima do peixe que em poucos segundos tinha sido devorado. O que faz a fome? Fosse outra ocasião, uma mulher nojentinha daquelas não comeria um peixe daquele nem mesmo pagando. Mas ali naquela solidão todos os nossos conceitos e preconceitos não existiam, ali éramos todos iguais e íamos comer qualquer coisa que nos colocassem a frente.
Juliana ainda com a boca cheia.
- Quando sairmos daqui eu faço questão de convidá-lo a ir a minha casa, comer o peixe assado da minha mãe... não... não é por nada. É que me lembrei do quanto ele é gostoso. Você vai?
- Não sei, vamos ver se quando vocês saírem daqui ainda vão se lembrar de mim.
- Vamos sim – confirmou Brenda palitando os dentes com a própria espinha do peixe.
- Ei, agora que eu me toquei... como foi que conseguiram fogo?
- Foi a Suzana.
- Onde ela está?
- Está aí na frente curtindo uma TPM, ela sofre demais, ainda mais aqui sem seus remédios contra cólicas, ela deve estar mais azeda do que limão.
- E cadê a Luana? – perguntou a Juliana.
- Está lá comigo, ela ficou me esperando. Vou nessa.
- Tudo bem.
Virei às costas e entrei na escuridão. Ouvi alguma delas me chamando:
- Juca?
- Que foi?
- Obrigada, você é um cara legal.
- Ah, tudo bem.
Como se eu tivesse feito aquilo por elas, eu tinha feito aquilo só para ganhar uma moral com a Luana, fosse por mim, aquelas metidas iam ficar sem comida por quanto tempo ficássemos na ilha, a menos que... eu tinha pensado sacanagem. Acelerei o passo na areia grossa da praia e rapidamente cheguei ao meu trapiche. Mas que susto! Luana não estava à beira da fogueira. Corri os poucos metros que nos separavam na esperança de que ela estivesse dentro da barraca. Olhei e nada. Para onde ela teria ido?
- Luana!
Só o barulho dos insetos e daquelas mulheres tagarelas quebravam o silêncio da noite. O que teria acontecido? Por que ela saíra sozinha naquela escuridão? Gritei por ela e nada, nenhuma resposta. Meu Deus, eu tinha demorado demais conversando com aquelas mulheres. E se algum bicho a tivesse pegado? Uma cobra? Uma onça? Onça não, ali não devia ter onça, não naturalmente. De qualquer forma era claro que alguma coisa muito séria tinha acontecido, não era preciso ser nenhum gênio para descobrir que Luana tinha medo do escuro, não se aventuraria naquela noite.
Voltei correndo para o acampamento das meninas. Elas ainda estavam à beira do fogo. Um vento mais álgido soprava.
- Ei, meninas, a Luana apareceu por aqui?
 - Não. Por quê?
- Porque ela desapareceu.

assista o vídeo
102 maneiras de olhar Fernando de Noronha 




Mundo Curioso


Gostou?
Eu escrevi para você!
Escreva para mim.
Deixe um comentário.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Passar na OAB

Passar na OAB
Cronograma 30 dias para aprovados no Exame de Ordem da OAB