Blogs Parceiros - os melhores

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Livro de um náufrago 6 – um homem de sete vidas




A ilha era uma pequena faixa de areia, intercalada por grandes rochedos que se atiravam mar adentro. No fundo uma grande mata cobria-a inteiramente, a frente um mar de águas claras meio esverdeadas. De dentro daquele verde cristalino das águas submergiam enormes blocos de rochas cobertas de musgos, onde algumas aves marinhas pousavam a procura de seus ninhos. O céu tão azul e claro, na imensidão do horizonte, confundia-se com o mar. 

Cansado de procurar por minha deusa, sentei-me sobre uma pedra à beira-mar e fiquei olhando aquela imensidão de água. Seria belo, se não fosse assustador. Meu Deus! Dois dias atrás eu era um simples boy, um zé-ninguém, e, naquele momento, eu ainda era um zé-ninguém, mas um zé-ninguém perdido numa ilha do Atlântico, sem saber nadar, cercado por modelos lindas e maravilhosas que não me davam à mínima. Sorri. Eu tinha que sorrir porque nunca conheci alguém mais sortudo e azarado do que eu. 

De repente surpreendi-me a pedir a Deus pela vida de minha deusa. Onde ela estaria? Quando olhei em direção a um rochedo, um pouco adiante, no mar, pude distinguir a imagem de uma pessoa que tentava andar sobre as rochas. Os cabelos loiros refletindo a luz do sol. Eu era capaz, até mesmo, de ver os seus olhos verdes. Era ela, era a minha deusa solar. Sai correndo pela praia até a margem de onde eu podia avistar melhor a pedra em que ela estava. Era mesmo ela.

- Luana - gritei.

A mulher na ilha olhou para mim. E sem pensar um segundo eu me atirei ao mar e caminhei em direção à rocha. Mas que grande coisa eu poderia fazer? Logo senti a areia faltar-me aos pés e afundei como uma pedra dentro do mar. Tentei lutar para voltar à superfície, mas desta vez, mesmo com o mar tranquilo, eu, sem colete, não conseguiria voltar. Pensei - encontrei e perdi a mulher da minha vida. Segurei a respiração até quando pude, quando já não suportava mais, meu cérebro pedia ar, eu tentei respirar. Senti o gosto salgado da água e aquela sensação de que um ácido penetrava meu corpo, perfurando meu pulmão. Mais uma vez perdi a consciência. Era meu fim. Tudo escureceu. 

Eu estava sobre um rochedo alto. Lá embaixo Luana, nua, tomava banho de mar. Ao vê-la eu me atirava do rochedo em direção às águas claras. E eu sabia nadar, tão bem quanto um golfinho, deslizava pelo fundo claro do mar e nadava junto aos peixes multicoloridos. Eu estava leve, eu era leve. Que sensação gostosa aquela! Mas, de repente, um dos peixes veio em minha direção e começou a me dar rabanadas na cara. Eu tentava me defender, mas sua cauda era certeira. Senti um ardor na pele ferida, passei a mão e despertei nas areias da ilha tendo Luana a me estapear o rosto. Demorei a entender o que estava acontecendo, foi quando senti que ela encostava os lábios aos meus, não pensei duas vezes, passei os braços pelo seu pescoço e a beijei. Mas que grande erro! Ela livrou-se de mim e passou a me estapear com vontade.

- Seu idiota, o que pensa que está fazendo?

- Desculpe-me - disse eu – é que eu pensei...

- Pensou errado – cortou-me ela. – Eu estava fazendo respiração boca-a-boca, caso não tenha notado.

Sentei-me na areia e comecei a olhar em volta. Eu estava vivo e, pelo que tudo indicava, graças àquela sereia sem cauda. Se eu continuasse naquele pique de morre e não morre, iria começar a pensar que eu era um gato, com sete vidas.

- Você tem problema de cabeça? Como você entra no mar sem saber nadar, seu estúpido?

- É que eu achei que poderia salvá-la.

- Que belo salvador é você! – e ela riu. – De qualquer forma, obrigado por se preocupar comigo, mas, da próxima vez, pense antes de fazer besteira. Sorte sua que deu tempo de eu salvá-lo, senão, a essa hora, você seria comida de peixe – ela sentou-se ao meu lado.

Luana Petrarca de biquíni ao meu lado, só ela e eu numa ilha paradisíaca de Fernando de Noronha, aquilo era sorte para homem algum botar defeito. Finalmente eu tinha dado uma dentro.

- E você encontrou mais alguém aqui na ilha? - perguntou-me.

Eu pensei mil coisas. Eu estava bem afastado das outras meninas, elas, certamente, não nos encontrariam naquela parte da ilha. Eu poderia dizer à Luana que não, que éramos apenas ela e eu. Assim ficaríamos grudados porque não teríamos mais ninguém. E quem sabe, debilitada, assustada, ela não se interessasse por mim. Talvez começássemos um relacionamento e, quando saíssemos da ilha, sairíamos enamorados. Seria o plano perfeito, embora, se eu dissesse aquilo e as outras nos encontrassem, eu seria desmascarado e Luana, com razão, nunca mais olharia em minha cara. O que fazer?
Continua ... 
Conheça um pouco de Fernando de Noronha
nesse maravilhoso vídeo
"102 maneiras de olhar Fernando de Noronha" 
Clique aqui 

Mundo Curioso


Gostou?
Eu escrevi para você!
Escreva para mim.
Deixe um comentário.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Passar na OAB

Passar na OAB
Cronograma 30 dias para aprovados no Exame de Ordem da OAB