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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Livro de um náufrago 7 – tanta carne sobrando e tem gente chupando osso

















  
Eu era mesmo um idiota, um idiota de sorte, mas ainda assim um idiota.
- Encontrei todas as meninas, estão nessa ilha, sãs e salvas.
- Que bom, graças a Deus! Vamos encontrá-las, elas devem estar preocupadas comigo.
- Ah, não estão não. Quando eu as chamei para virmos a sua procura, nem se deram ao trabalho de levantar suas bundas da areia.
- Eu sei, são todas egoísta. Mas o que fazer? Esse mundo está cheio de gente assim, de qualquer forma quero vê-las.
- Tudo bem.
Não havia outra solução a não ser fazer o que ela me pedia. Conduzi-a até onde estavam as outras modelos. Quando a viram, (que falsidade!) correram abraçá-la gritando de felicidade, menos, é claro, a Suzana, essa parecia fazer questão de mostrar que não se importa nem um pouco se Luana estava viva ou morta. De qualquer forma, ali estava eu, cercado por seis mulheres vestidas apenas de biquínis, lindas, maravilhosas e, até então, fazendo questão de mostrar que eu era um zero a esquerda. Eu estava achando que aquilo começava a ficar sem graça. Qual a minha vantagem em estar numa ilha deserta com seis mulheres quando você é tratado como um cachorro, como um cachorro não, porque para um cachorro ainda restam os ossos.
Eu estava sobrando naquela confraternização de modelos, por isso fui me sentar sob a sombra de algumas árvores à orla da praia. O que o lugar tinha de solidão ele tinha de beleza, maravilhoso, com seu mar azul esverdeado, suas rochas que pareciam icebergs de pedras, seus pássaros, e até os peixes que em alguns pontos podiam ser observados como num aquário. E indo para o centro da ilha havia uma mata de vegetação baixa, o chão era um tapete de folhas secas e pequenas ervas que conseguiam sobreviver quase sem luz do sol. Aparentemente não deveriam existir muitos mamíferos ou repteis naquele lugar, porque se existissem, eu não entraria ali por dinheiro nenhum do mundo. Numa ilha existem poucas espécies de répteis, pelo menos na maioria delas.
Com essa certeza adentrei a mata em busca de alguma coisa para comer, eu já estava ficando com fome.
Os barulhos eram normais, alguns passarinhos e insetos. Caminhei durante quase uma hora orientando-me pelo sol. Logo comecei a ouvir o barulho de uma queda d'água, só restava saber se era água doce ou salgada. Penetrei mais fundo na mata e logo dei com uma bela cachoeira. Subi num coqueiro, derrubei um coco meio seco, quebrei-o, com a casca apanhei um pouco de água, bebi, depois apanhei mais para levar à Luana que certamente deveria estar morrendo de sede. Eu precisava fazer uma moral, talvez essa fosse a única chance que eu tivesse na vida para conquistá-la e eu não poderia desperdiçar.
Voltando encontrei, numa encosta, uma bananeira com um cacho cheio de bananas maduras que serviam de banquete a alguns passarinhos. Apanhei o cacho de bananas e voltei à praia.
Quando me viram chegar, arqueado pelo peso do grande cacho, correram em minha direção como uma horda de fãs, atrás de seu cantor, em busca de um autógrafo. Eu me senti o máximo, um Justin Beaber, um Luan Santana, um Tiririca.
- Nosso herói encontrou comida – disse Fernanda.
- Opa! Opa! Opa! - disse eu colocando a mão espalmada a frente do corpo pedindo para que elas parassem. – Quem disse que eu trouxe comida para vocês? Trouxe para a Luana, a única que me tratou como gente aqui. O restante de vocês eu quero é que se expludam, suas arrogantes, filhas da mãe.
- Eu não acredito que você vai fazer isso com a gente. – reclamou Juliana.
- Acredite, isso é possível. Venha, Luana, pode comer.
Luana aproximou-se.
- Como é mesmo seu nome?
- Juca – respondi um pouco chateado por ela não saber o meu nome.
- Juca, vejo que é boa pessoa, divida com todas elas também. Pobres meninas! Estão todas morrendo de fome.
- Que se danem, elas que aprendam a ser gente primeiramente. Você é a única simpática aqui, esse restante... bem... o restante é o restante. E também, não dizem que modelos vivem de vento, que não comem, pois, então...
- Eu peço, se gosta de mim, divida com elas também.
Depois de um pedido feito com tanto carinho não havia mesmo como negar. Atirei o cacho de bananas no chão e aquelas modelos, quase anoréxicas, avançaram sobre ele como animais ferozes. Eu pensei – quando estão em público fazem caras e bocas, fingem que não comem, não dormem, não cagam. Mas ali a história era bem diferente. Eu até que me diverti. Por divertir-me, quando pensei em comer, aquelas mortas de fome haviam consumido todo o cacho de banana, não havia mais nenhuma.
- Tem mais banana por aí? – perguntou-me a Juliana.
- Deve ter sim.
- Traga mais um cacho.
- Olha, escute aqui, sua arrogante metida a besta, eu não sou seu empregado e nem pense em se aproveitar de mim só porque sou o único homem dessa ilha, sei muito bem o que vocês são capazes de fazer.
- Como é revoltadinho esse rapaz – comentou a Fernando voltando para onde estava Suzana. 
Foi quando reparei que Suzana não havia participado do banquete das bananas. Que mulherzinha mais estranha aquela, além de ser a mais feia de todas, era a mais arrogante e insuportável, desde que chegara não parava de olhar em direção ao mar a espera certamente de socorro ou coisa parecida. Mas era uma tola, poderíamos até ser salvos, mas certamente demoraria. O Arquipélago de Fernando de Noronha tinha uma infinidade de ilhas e ilhotas, certamente o capitão, perdido na noite, sem motor, poderia ter perdido o senso de direção, isso é, se o capitão ainda estivesse vivo e não servindo de comida aos peixes.
Lógico, aquilo me preocupava também, eu fazia parte daquele grupo de náufragos, sem esperança de que nos encontrassem em menos de três dias. Se a Marinha fosse tão eficiente quanto a nossa Polícia Militar, então era tratar de fixar residência, não sairíamos dali antes do Natal, antes daquelas mulheres todas perderem suas cinturinhas maravilhosas e ficarem queimadas de sol. Isso se um dia conseguíssemos realmente sair, se não tivesse que viver como o Tom Hanks, em O Náufrago. Eu tinha uma vantagem surpreendente sobre o Tom Hanks, eu não precisaria de uma bola para poder conversar, aliás, conversa era o que não faltava naquela ilha, já que aquelas mulheres não fechavam suas bocas nem para comer.

assista o vídeo
102 maneiras de olhar Fernando de Noronha 




Mundo Curioso


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