O velho tinha mesmo razão, não demorou nada, uma nuvem escura cobriu tudo. Nós havíamos nos afastado bastante da costa em busca dos melhores lugares para fotografar quando começou a ventar, logo em seguida, muito rapidamente, começou a pingar e, em menos de cinco minutos, uma chuva torrencial despencou sobre o mar. Um espetáculo sem igual para mim que nunca tinha visto aquele mundo de água sendo irrigado pelo céu.
Mas a beleza do momento não durou muito. De repente a motor da lancha parou.
- O quem aconteceu?
- O motor travou. Vou dar uma olhada para a gente poder voltar, daqui a pouco a coisa por aqui vai começar a ficar perigosa.
O que mais me impressionava era que aquelas mulheres não ligaram a mínima para a tempestade que se aproximava, continuaram suas conversas e risos, enquanto Rodolfo procurava ângulos melhores para a luz. Que perfeição! Vi uma das fotos em que Luana, de pé na proa, cabeça erguida, olhava para o céu, recebia em seu corpo aqueles inúmeros pingos de chuva. Não sei se era a situação, o fotógrafo, a modelo, ou tudo junto que culminava naquela maravilhosa de foto. E Rodolfo, que há pouco estava reclamando da chuva, sorriu satisfeito.
Logo, porém, a tempestade nos alcançou. O pequeno barco balançava perigosamente, e eu via a hora de alguém ser atirado àquele mundo de água. Mas quando um raio, seguido de um estrondo cortou os céus, foi que as meninas pararam de rir e entenderam o perigo a que estávamos expostos. Eu também comecei a me preocupar, o fato de não saber nadar me atormentava. O velho piloto apareceu trazendo coletes salvas-vidas e eu entendi que ele não conseguira resolver o problema do motor e me alarmei, eu não sabia até que ponto aquele colete poderia ser útil a uma pessoa que não sabia nadar. Mas a minha preocupação, era a mesma de todo mundo. Rodolfo mandou-me recolher o material, o que fiz rapidamente e quando ia guardá-los ouvi a notícia que me deixou aterrorizado. O velho piloto dizia a Rodolfo.
- Estamos à deriva. O motor queimou.
- E o que a gente faz? – perguntou o fotógrafo.
- Se acredita em Deus, é melhor começar a rezar para, pelo menos, essa chuva passar logo. O mar está muito revoltado e essa lancha não vai aguentar uma tempestade muito forte por muito tempo. Eu avisei ao senhor que vinha tempestade.
- Mas não me disse que o seu motor podia parar.
- Isso a gente não pode prever.
Eu aproximei-me de Rodolfo.
- E agora, o que vai acontecer?
- Se Deus quiser nada. Já que você é meu assistente, faça o favor de ajoelhar e pedi a Deus por nós.
Mesmo naquela situação eu não pude deixar de rir, eu era assistente até mesmo na oração. Ia dizer alguma coisa, mas vi que Rodolfo estava se borrando de medo.
Ajeitamo-nos como pudemos na lancha e todos, quietos, sentíamos os pingos grossos e frios da chuva. Vez ou outra, tínhamos que nos segurar, pois uma onda varria o convés com força, deixando as meninas histéricas. Suzana é que parecia não se importar muito, naquele momento, ela parecia mais macho do que eu, somente se segurava para não ser arrastada por alguma onda, mas, em momento algum, a vi se desesperar.
- Gente, a melhor coisa é nos amarrarmos ao barco para não sermos carregados por essas ondas. Se alguém cair nessas águas só sobreviverá por milagre.
O velho piloto com uma corda começou a amarrar a Amanda, Rodolfo estava ao lado do velho e ambos seguravam a corda, quando uma onda muito forte engoliu nossa lancha. Num momento eu os via, no segundo seguinte eu lutava desesperadamente tentando me manter vivo dentro do mar. O colete me mantinha na superfície, mas as inúmeras ondas quebravam sobre minha cabeça e mandavam-me para o fundo. Eu ouvia o grito de alguma mulher, mas não enxergava nada. O dia havia escurecido de tal forma que parecia noite. E naquele momento eu pensei que não viveria para contar aquela história. Uma enorme onda me engoliu, fui arrastado muito para o fundo, tentando lutar desesperadamente contra a inevitável morte. O ar estava me faltando e não conseguia tornar a superfície para respirar. Entreguei minha alma para Deus, senti que era meu fim. Eu não podia mais lutar contra o inevitável.
Tudo escureceu e silenciou. Eu entendi... Era a morte.
Continua amanhã.
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Um comentário:
Nossa! Estou gostando demais e vou acompanhar o desenvolvimento desse tema tão instigante até o fim. Sempre adoro passar por aqui.
Um abraço e mais sucesso!
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