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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O livro de um náufrago 17 - o que é a realidade depois da ilha dos sonhos?

Ficamos no hotel por toda aquela tarde esperando o horário do voo. E, depois de ter me lavado, escovado os dentes, sentia-me um zero à esquerda limpinho. É claro que eu esperava que Luana aparecesse na recepção para me dizer adeus, com um sorriso no rosto e o beijo que eu sempre esperei. Mas isso não aconteceu. Afinal isso é um conto real, não um filme romântico. A vida real era um tanto quanto ingrata. Fiquei assistindo televisão. O resgate das modelos era notícia em tudo quanto era jornal. O mais engraçado era que somente um citava a minha existência e, mesmo assim, chamou-me de Júlio. Tudo bem, melhor ser Júlio do que não existir.
Na verdade eu estava um pouco feliz por tudo aquilo ter terminado e eu voltado ao mundo real, do qual nunca deveria ter saído, eu tinha consciência de que o meu lugar realmente não era ao lado de modelos lindas e maravilhosas, era, certamente, casando com alguma mulher feia que, por misericórdia, teria tido uma noite de amor comigo. Acho que eu não poderia esperar muita coisa da minha existência e o único lugar onde certamente ficaria gravado o meu nome seria no túmulo do cemitério. Eu sei que pareço um tanto quanto nostálgico, depressivo. Isso porque era dessa forma que eu me sentia, um completo nada. É complicado chegar aos 28 anos de idade se ter ninguém que nos ame, ninguém que durma ao nosso lado, isso realmente torna-se um problema. Eu pensei que aquele tempo na ilha pudesse resolver esse problema triste em minha vida, mas, pelo jeito, não, nada acontecera de maravilhoso, tudo voltava ao normal e eu voltava ao meu mundo sem nenhuma marca do sonho que poderia ser aquela ilha, a não ser a parte das minhas fantasias sexuais. Eu tinha certeza de que passaria o resto da vida tendo sonhos excitantes e bem sacanas.
Rodolfo veio chamar-me. O carro estava a nossa espera. Peguei minha malas, fechei a porta e desci para a recepção. Ao chegar a porta de saída o celular de Rodolfo tocou. Pude ouvi-lo conversar e deduzi com quem ele falava.
- Oi. Claro. Eu não vou dar vazão a essa história mesmo porque ela não vende uma boa imagem da nossa empresa. Não. Quanto ao Juca pode ficar tranquila tenho certeza de que ele não está querendo publicidade. Como assim, processa? Quer saber, Luana, eu quero mais é que você se exploda, eu não lhe devo nada, isso foi eventualidade, algo sobre o qual eu não tinha controle. Entenda como você quiser. Ele não tem nada a declarar. Tchau.
Era claro que ela estava ameaçando a revista, mas para mim aquilo pouco importava. Eu só não entendi o que Rodolfo disse, a última frase, “ele não tem nada a declarar”. A quem será que ele estava se referindo? Seria a mim? Será que Luana estava querendo falar comigo e ele não deixou. De uma coisa eu tinha certeza, pelo menos ela não se esqueceria de mim nem tão cedo. Isso já era o suficiente para eu rir pelo resto da vida.
Entramos no carro, em meia hora estávamos pegando o avião de volta para casa. No avião foi que Rodolfo conversou comigo.
- E aí, me conta como foi ficar dois dias naquela ilha com aquelas loucas.
- Horrível! Que mulheres insuportáveis. Não sei como você as tolera.
- Tem gente que recolhe lixo, outros que recolhem carniça, eu recolho modelos, lindas maravilhosas e fúteis. Todo emprego tem o seu sacrifício e não acho que o meu seja pior ou melhor do que o de ninguém.
- Eu não aguentava aquelas mulheres, juro que tinha vontade de afogar uma por uma naquele mar.
- Eu imagino. Aquelas ali são insuportáveis, principalmente a Luana Petrarca.
- Ela foi a única que me pareceu decente.
- Engana-se, se brincar é a pior delas. Ela é tão ambiciosa e oportunista que vai se casar com um empresário super rico de Pernambuco que deve ter idade para ser o avô dela. É uma safada das piores.
- Não foi o que me pareceu.
- Mas lógico que não, ela é profissional, se andasse com isso tatuado em sua testa não encontraria nenhum trouxa para cair na sua lábia.
- Você disse que ela irá se casar?
- Se não me engano é na semana que vem. Vai ser uma festa daquelas, eu estou convidado. Quer vir comigo, acho que você bem que merecia.
- Acho que não, não tenho mais estômago para ver mais isso.
Ele virou-se para pedir alguma coisa à aeromoça enquanto eu resolvi fingir que estava dormindo. Ele acreditou, pois não quis mais conversa.
Na verdade eu tinha fechado os olhos para pensar em tudo aquilo que ele tinha me falado. Eu não podia acreditar que Luana fosse aquela interesseira calculista que ele pintara. Pensei que os anos de profissão haviam criado alguma espécie de barreira entre ele e as modelos, por isso vivia a falar mal delas. E cada instante vivido na ilha estava nítido em minha mente, eu não conseguia ver algo que pudesse justificar aquela acusação. Não, absolutamente, Luana não era aquele monstro. Aquilo não era falsidade, certamente eu poderia muito bem ser o único homem para o qual ela tinha aberto seu coração. Ela mesma tinha dito que eu era o único que a tratou de forma diferente. E eu me apeguei àquilo na esperança de que ela pudesse vir até mim, deixar suas ambições de lado e tentar um amor sincero. Acabei adormecendo e tendo um sonho maravilhoso com ela.
Aterrissamos e seguimos direto para a Revista. Ao entrarmos pela porta eu tive a maior surpresa de minha vida. Nem em meus maiores devaneios eu poderia pensar que um dia acontecesse aquilo.

Continua amanhã
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102 maneiras de olhar Fernando de Noronha 




Mundo Curioso


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2 comentários:

Mirtes disse...

Até agora está tudo bem instigante, estou adorando a continuação, deste conto. Mal posso esperar para saber sobre a maior surpresa da vida de Juca. Continuo curiosa pra saber tb do desfecho deste conto.
Parabéns pelo trabalho e que venha a parte 18

Valdir Bressane disse...

Mirtes, é sempre um prazer ouvir os comentários dos leitores. Obrigado por estar sempre conosco no Ninho de Risos. Espero que goste do final. Grande beijo a você e a todos que estão acompanhando essa história.

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