Nusa, uma forma carinhosa de chamar-lhe, seu nome era Vanusa. Pessoa extremamente simpática, sorridente, alegre e de fácil relacionamento (entenda-se por fácil relacionamento, um relacionamento que chega aos finalmente sem passar pelas preliminares). Conhecia um cara e, na mesma noite, terminava num motel ou numa escura e suja casa do subúrbio. Ela sabia que era inconsequente, mas nunca se importava com os conselhos da mãe ou de quem quer que fosse. Afinal ela sabia se cuidar muito bem e não precisava de babá, era o que sempre dizia à mãe histérica vendo-a sair de casa com uma saia curta; curta não, mais parecia um pedaço de pano que lhe escondia momentaneamente sua calcinha.
Gostava da noite. Amava sair, beber, fumar e ficar com homens exóticos. Curtia programas mais exóticos ainda como nadar numa piscina particular pulando o muro, altas horas da noite. E não se intimidava diante de seus amigos homens, diferente do que se podia pensar, ela não saia, de forma alguma, com amigos, tinha-os como seus irmãos e eles a consideravam também como tal e nem notavam que Nusa era uma mulher.
Uma noite, numa boate na Zona Sul, ela chegou toda espevitada, cumprimentou sua galera, um bando de emos, ela não o era, mas curtia se relacionar com gente que fugia aos padrões, tinha uma infindável lista de pessoas estranhas em sua vida, desde doutores de ciências estranhas e desconhecidas à membros de seitas malucas da qual ninguém nunca ouvira falar.
- Eu sou eclética – dizia ela aos seus amigos.
Naquela noite conheceu algo que ainda não tivera o prazer de provar - um gótico. Estava com os olhos pintados com sombra escura, os cabelos meio compridos, todo de preto e com a cara fechada para novas amizades. Mas desde quando isso empatara Nusa de conquistar alguém? Ela ficou muito excitada com a ideia de conhecer um estilo novo.
- Ele é um gatinho, não é? – buscou a opinião de uma amigo, afinal sua popularidade só podia se manter se ela sempre ficasse com uma determinada classe de garotos bonitos.
- Só se for um gato sarnento. Esse cara não parece nem mesmo que toma banho, aposto que é fedido e tem chulé até na palma da mão – disse o Junior.
- Mas como você gosta de ser estraga-prazeres. Mesmo assim vou falar com ele.
- Vai, ninguém vai tentar impedi-la, juro.
E ela pulou na pista de dança, mexendo-se como uma galinha destroncada e foi se aproximando do dito cidadão que não parecia dar a mínima para a aproximação de Nusa. Mas ela foi até lá, não se importava com foras, isso fazia parte de sua vida. Ninguém consegue tudo que quer, dizia ela quando voltava de um fora, mas, mesmo assim, não perdia o ânimo e continuava a sua busca desenfreada por um macho que pudesse fazê-la feliz e satisfeita por pelo menos aquela noite.
Aproximou sua boca do ouvido do gótico ou que diabo fosse aquilo.
- Oi, gatinho, como é o seu nome?
Ele limitou-se a medi-la com um olhar onde não era possível saber se havia interesse. Ela parou, pôs as mãos na cintura como quem cobra uma atitude e sorriu para o rapaz que se limitou a mostrar-lhe os dentes, sem contudo poder dizer que aquilo era um sorriso. Ela aproximou-se novamente.
- Não vai dizer seu nome?
- Você não precisa saber o meu nome e nem eu o seu, vamos pular as apresentações e vamos dar o fora daqui.
Já vira muitos homens diretos e objetivos mas aquele havia superados todos eles. Ela o encarou procurando um bom motivo para não ir, essa era a sua tática, parecia interessada e, logo depois, dava a impressão de querer pular fora.
- Para onde?
- Vou levar você a um lugar tranquilo, aposto que nunca saiu de uma festa para ir a um lugar como esse. Está a fim?
- Não sei, está me parecendo uma roubada.
- Vem na fé, mina.
Ir na fé? Que lugar seria esse ao qual ele queria levá-la? Sua curiosidade era maior do tudo. Lembrou-se de sua mão dizendo – a curiosidade matou o rato. Ela não era rato portanto não se enquadrava no velho e idiota ditado de sua mãe.
- Tudo bem, só vou me despedir dos meus amigos. Volto em dois minutos.
Ela atravessou o salão. O Junior começou a gritar.
- O primeiro fora da noite?
- Claro que não, seu bobo. Ele vai me levar para um lugar ao qual nunca fui.
- Cuidado, sua louca, ele tem cara de psicopata.
- Psicopata é você e a Polícia não descobriu. Fui, meu anjo. Tchau para todos.
Nusa saiu em direção à enigmática figura dos olhos pintados e roupa preta. Ele a encarou, mas ele não se mostrou nem mais simpático e nem um pouco atencioso. Mesmo assim ela o seguiu para fora do salão, para um programa desconhecido. Aquilo era mais do que excitante.
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