II
Estava uma noite muito fria e Nusa pensava porque aquele cara andava à sua frente sem nem ao menos conversar com ela, não dava o menor sinal de que estavam juntos. Ficou pensando que dessa vez havia entrado numa roubada. Que tipo mais estranho. Um motivo para nunca mais sair com um tipo como aquele. Teve, por diversas vezes, vontade de parar, voltar ao salão onde provavelmente encontraria um cara melhor, aquele, sem sombra de dúvidas, era sem educação e sem noção. Mas sua curiosidade a levava a querer saber do destino proposto. Aonde aquele cara queria chegar? Um lugar diferente? O que era um lugar diferente, já estivera em tantos lugares diferentes, mas sempre com a mesma intensão - fazer algo comum a todos os homens e mulheres. Ela cruzou os braços, quem está na chuva é para se molhar, pensou. Continuou seu caminho atrás daquela figura negra que por muitas vezes desaparecia atrás das sombras das árvores.
O vento cortava seu rosto como uma navalha afiada, mas Nusa não queria desistir, continuou em direção ao desconhecido mundo de um gótico. Nem mesmo ela entendia o que a levava aquele tipo de comportamento, procurava algo que a instigasse de verdade, algo que valesse a pena. A maioria dos homens que conhecera eram fúteis, ela se enojava da cara deles dois minutos depois de os conhecer profundamente. O que queria na verdade era encontrar alguém que realmente a levasse a um mundo que ela não conhecia, o mundo da satisfação do corpo e da alma. Isso estava muito difícil. De repente poderia ser aquele gótico maluco que a levaria a conhecer o mundo do amor. Por isso continuava a andar atrás daquele maluco.
Vinte minutos depois o gótico estancou no meio da rua, virou-se e esperou que Nusa se aproximasse. Ela aproximou-se pensando se aquele era o lugar onde ela nunca estivera? Ele acertou em parte, ela nunca estivera parada como uma idiota numa calçada, num bairro que não conhecia.
- A partir daqui terá que confiar em mim – disse o gótico.
- Como assim?
Viu ele tirar uma pequena venda do bolso da calça. Aquilo realmente deveria ser algum tipo de fetiche muito louco. Como se deixar vendar por um estranho que você não sabe nem ao menos o nome. Sentiu pela primeira vez medo real, mas não medo de ser sequestrada, abusada, não, medo de estar sendo idiota. De qualquer forma aquela era uma experiência diferente de tudo que fizera em sua vida.
- Você confia em mim?
É claro que ela não confia nele, nem nele nem em ninguém, mas não teria outra opção se não se entregar de olhos vendados para ter um momento a mais de prazer e, quem sabe, conhecer um pouco daquele seu mundo maluco. Por isso ela aceitou. Porém sentiu-se mal com aquela faixa preta tapando sua visão, tendo que andar de mãos dadas com um homem que até aquele momento andara como um louco a sua frente, sem se importar com ela, sozinha e tremendo de frio. Ele passou a mão por sua cintura. Continuaram andando por muitos minutos, não fazia a menor ideia, mas sabia que era por um tempo demasiado enorme.
Depois de muito andar ele parou, mandou que ela ficasse parada. Ele se afastou. Ela pôde ouvir seus passos. Sentiu um frio na barriga. Aquilo era perigosamente delicioso. Em que fria poderia estar se metendo? Mas continuou estática ouvindo o barulho de um portão de ferro sendo aberto. Para onde estavam indo? Seria a casa daquele maluco? Não seria, ele disse “um lugar diferente” e não podia pensar que alguém diria lugar diferente para a própria casa. Ele voltou a segurá-la pela cintura e a conduziu. Ela podia sentir que pisava num chão de pedregulhos ou coisa parecida que ia dificultando seus passos. Que lugar seria aquele?
Por fim pararam.
- Sente-se aqui enquanto eu ajeito o lugar.
- Não precisa ajeitar nada, não tenho frescura – disse Nusa louquinha para se ver livre daquela venda.
- Fique quietinha, eu sei o que estou fazendo.
Contentou-se em ficar parada ouvindo os passos daquele homem de um lado para o outro naquele chão cheio de pedra. Ela podia sentir cheiro de flores e algo bem menos agradável que não sabia o que poderia ser.
Por fim ele se aproximou, tocou em seu rosto com carinho.
- Agora vou tirar-lhe a venda e quero que não se impressione com o lugar, talvez você nunca tenha estado num lugar como esse, mas posso lhe garantir, não há lugar mais tranquilo e inspirante para um casal ou para quem quer que seja.
A curiosidade de Nusa aumentava a cada instante e ela ia tentando descobrir antes da venda ser retirada que tipo de lugar era aquele. Até o momento sabia que tinha o chão com pedrisco, sentara-se sobre algo gelado, um piso certamente, embora tivesse uma altura de uns quarenta centímetros, tinha cheiro de flor no ar e muito silencioso. Mas o gótico não lhe retirava a venda. Ao invés disso passou a beijar-la de mansinho a boca, depois seu pescoço, enquanto suas mãos passeavam por todo o corpo de Nusa. Aquela era um experiência bem inusitada. Acertara novamente.
- Agora se prepare para conhecer o lugar mais sagrado para mim, onde eu quero fazer amor com você.
Lentamente ele encostou a mão atrás de sua cabeça e foi retirando a venda. Quando terminou ela deu um pulo, assustada. Ela nunca poderia imaginar que seria justamente naquele lugar. Muitas coisas passaram pela sua cabeça. Seus monstros adormecidos despertaram.
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