IV
Mas Nusa conseguiu se controlar. Realmente não poderia haver nada demais em um cemitério a não ser silêncio e escuridão. Os vivos é que poderiam fazer-lhe algo, porque os mortos, esses estariam am algum plano pensando nas merdas que fizeram sobre a terra. Mesmo assim a cisma se mantinha, mesmo diante daquele gótico maluco tentando de todas as formas tirar-lhe a roupa. Cara atrevido! Ela olhava feio para ele, mas a falta de luz talvez não permitisse que aquele louco pudesse ver-lhe a feição embrutecida. O medo começou a se tornar uma espécie de excitação. Era um ambiente proibido para ela, temido, aquilo fez com que seu corpo produzisse mais adrenalina e a experiência, unida as carícias do gótico, a puseram num estado completamente novo, numa excitação diferente de todas as que sentira em sua vida.
E, pouco a pouco, sua mente volveu às carícias, deixou o medo dos mortos de lado. Pensou que pelo menos o gótico havia acertado numa coisa - ela nunca passara por uma experiência daquelas dentro de um cemitério, numa madrugada, com um gótico maluco pensando que era vampiro e chupando o seu pescoço. Os seus olhos, com custo, finalmente haviam deixado de fixar as dezenas de túmulos que podia ver na pouca claridade e se fixar no vampiro gótico. E ela até que tentou resistir. Finalmente começou a retribuir os carinhos. O gótico partiu com tudo vendo que conseguira convencê-la, desvencilhou-se de seu braços e buscou a garrafa de vinho que trouxera para o cemitério no começo da noite, ele sabia que sempre conseguia arrastar uma mulher para aquele lugar. Há muito tempo fazia isso. Ele gostava do ambiente, além do mais não tinha dinheiro, nem carro, para um motel. O melhor lugar era aquele, quase ninguém ousava entrar dentro de um cemitério à noite, portanto, havia tranquilidade para fazer tudo o que se desejasse.
Encheu a taça de vinho de Nusa, depois a sua, encarou-a. Bateram suas taças no ar desejando-se mutuamente saúde. Ele a encarava, via uma mulher bonita e sensual; ela, um homem bonito e misterioso; ambos queriam adentrar o mundo do outro. Viraram num só gole a suas taças de vinho e voltaram ao agarramento. Em questão de minutos, Nusa nem mais se lembrava de que estava dentro de um cemitério. Era muito boa a sensação de estar fazendo algo tão errado como violar um lugar que era temido, com uma cena de amor. E foi gostando da situação cada vez mais, até estarem, ambos, nus, rolando sobre o lençol preparado pelo gótico.
Era tudo surreal, um sonho, um pesadelo, o quê? Nusa se perguntava enquanto via os túmulos, agora, parecendo distantes. Que loucura! Não podia acreditar que estivesse fazendo aquilo, era algo que tinha de ter experimentado muito tempo antes. E naquela sua loucura, sorria de si mesmo. Era uma louca isso sim. E empolgada entregou-se a todo aquele momento de loucura. Mas, em momento algum, pôde esquecer que estava dentro de um cemitério.
- Não gostou do lugar? – perguntou o gótico vampiro.
- Vocês são loucos assim mesmo ou só de vez em quando?
- Nós só adoramos aquilo que outras pessoas não gostam, uma questão de ir contra os costumes. Mas não é hora de falar dessas coisas, gata.
E lá foi ele novamente no pescoço de Nusa que no dia seguinte estaria com horríveis marcas de chupada por todo o pescoço e teria de passar o dia com uma caxarrel horrível e quente para esconder de sua mãe, as artes do dia anterior. Sua mãe lhe cobrava muito, vivia com aqueles seus discursos politicamente corretos.
E a coisa esquentou, esquentou, quando já iam entrar em combustão foi que Nusa olhou em direção a luz afastada e divisou dois homens. Um deles com uma grande barba, parados com os braços cruzados olhando em direção ao casal. Nusa deu um pulo, tentou alcançar suas roupas, mas era tarde demais, os homens começaram a correr em sua direção. Ela deu um grito. O gótico vampiro saltou de pé e, sem perca de tempo, desapareceu pelado em meio aos túmulos. Nusa viu-se sozinha, nua, indefesa diante de dois homens correndo em sua direção.
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