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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os Princípios da Traição - O Fim

   VIII

Eu imaginei-me deitado, amarrado, jogado nos trilhos de um trem, vendo aquela máquina enorme soltando fumaça e se aproximando perigosamente, enquanto eu gritava como uma louco histérico. Eu fiquei sentado no banco, sem reação, ouvindo o trovejar da voz de Valadão mandando o motorista abrir a porta. Rezei para que a porta emperrasse, para que o motorista o confundisse com um assaltante e fugisse. Fechei os olhos por uma fração de segundos e vi a merda da minha vida passar pela minha cabeça. Não era medo exatamente, era um misto de arrependimento, de desespero por se ver sem reação. Nunca fui homem de briga, nunca não, uma vez dei um murro num menino, à saída da escola. Mas ele não se chamava Valadão, não era temido por sua valentia. 
- O que faremos agora? – perguntou-me Andreia.
Era uma boa pergunta, a qual eu não tinha resposta, não sabia nem por onde começar. Eu pensei em me ajoelhar, implorar misericórdia e dizer que a culpa fora de Andreia, afinal, para que morrer dois se um só resolvesse o problema? Imaginei-me fazendo aquilo. Que homem corajoso! Acho que eu riria se não fosse o fato de estar me cagando de medo.
Os passageiros do ônibus começaram a ficar irritados com a demora do motorista para continuar a viagem e uma algazarra começou a se formar. Alguém xingava o motorista em voz alta. Ao me sentir perturbado com aquele barulho acho que acordei. Levantei-me do banco, segurei Andreia pela mão e a conduzi ao fundo do ônibus. Abri a porta do banheiro, empurrei-a para dentro acompanhando-a. Mantive os olhos na fresta da porta. Vi os passageiros começarem a se levantar de seus bancos e irem bater à porta da cabine do motorista que discutia com Valadão. Pensei que aquelas pessoas irritadas fosse atrapalhar o plano de Valadão que certamente queria revistar o ônibus. Mas qual o quê! A porta se abriu e um Valadão babando de raiva surgiu diante de todos. Foi o suficiente para cada qual pegar o rumo dos seus acentos. Ninguém quis ficar no caminho dele.
- Alguém viu aquele filho de rapariga que fugiu com minha mulher? - gritou Valadão dentro do ônibus.
Graças a Deus ninguém nos entregou. Fiquei observando por entre a fresta da porta. Valadão veio para o fundo do ônibus, eu quase não respirava, tinha vontade de fechar a porta e fingir que nada daquilo estava acontecendo, mas era impossível, parece que se eu ficasse com a porta fechada Valadão nos descobriria com mais facilidade. Vi-o caminhando por entre o corredor observando atentamente o rosto de cada um. Eu podia sentir a sua respiração ofegante, mesmo ele estando ainda no meio do ônibus. Por fim, aproximou-se da porta do banheiro, eu não poderia continuar com ela aberta, fechei lentamente, mas mantive o ouvido colada a porta. Ouvia os seus passos, eu nem respirava. Andreia apertava minha mão. Se Valadão resolvesse olhar o banheiro estaríamos fritos. Os passos vieram o mais próximo possível.
 De repente ele bateu a mão na porta, com força. Estava tentando abri-la. Bateu novamente e nada.
- Por que essa merda não abre. Tem alguém aí? – depois pareceu inquerir de alguém que estava sentado ao lado. - Tem alguém aqui no banheiro?
Ouvi a voz de um homem responder.
- Tem.
- Homem ou mulher?
- Um velho, estava sentado no banco da frente, acho que ele deve ser surdo.
- Tem certeza?
- Certeza de quê? De que ele é surdo?
- Não se faça de engraçadinho, rapaz.
- Tenho sim.
Ouvi a voz do motorista, gritando lá na frente.
- Se o senhor não descer desse ônibus agora eu vou chamar a Polícia.
- Pois chame, seu filho de rapariga, chame que você vai ver.
Valadão apertou o passo pelo corredor e saiu. Senti-me aliviado quando o motorista fechou a porta e engatou a primeira. Abri a janelinha do banheiro e pude ver o carro de Valadão manobrando no acostamento. Estávamos livres. Andreia abraçou-me e me beijou. Eu sorria aliviado. A partir dali tudo seria diferente. Beijei-a com vontade, a coisa esquentou e fizemos amor no banheiro do ônibus. Vou avisar que não é cômodo mas é bom.
Ao sair olhei na direção de onde viera a voz que nos salvara de Valadão.
- Obrigado, cara – disse eu.
- Não tem de quê.
Voltamos ao nosso banco e continuamos nossa viagem rumo a uma nova vida juntos.
É claro que o primeiro pensamento que vem a cabeça é -   ele viveram felizes para sempre.
Não foi bem assim, convido-os para ir
Além do Fim.
Amanhã em Ninho de Risos.

Obrigado, Fabiana Gusmão,
que nos enviou seu comentário. 
O fim já estava escrito, mas
seu pensamento foi quase uma previsão.
Um grande beijo. 

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