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domingo, 5 de dezembro de 2010

Os Princípios da Traição - o ministério do bom-senso adverte: marido corno pode ser prejudicial para a sua vida!

     VII
Quando estamos fugindo, sabendo que nossa vida está por um fio, o nosso nível de adrenalina deve ser igual ou superior ao de quem pula de um prédio de encontro ao chão duro da calçada vazia. Meu coração batia acelerado, minha boca secara, minhas pernas, por mais que eu me esforçasse, parecia ter tido desempenho melhor em outros dias. Eu olhava para todos os lados, imaginando um Valadão, com uma faca em punho surgindo de detrás de um muro, uma árvore, descendo de um carro que passava lentamente ou rapidamente. Não havia sinal de Valadão, porém, em canto algum. Eu estava imaginando aquela perseguição, consciência pesada, sabia, eu era culpado, como tal, deveria pagar. Deus certamente não estaria do meu, estaria do lado da Justiça. Eu era o contraventor, o errado, o safado, o Ricardão.
Na esquina do Açougue meu celular começou a tocar. Joguei a mala nas costas, enfiei a mão no bolso da calça, retirei meu celular. Número desconhecido.
- Pronto.
- Doutor?
Senti minhas pernas bambearem, por um momento tive que parar senão perigava cair. Era a voz de Valadão. A voz penetrou meu corpo, foi difícil segurar a urina que teimava em querer molhar minhas calças. Tem gente que pensa que isso é invenção. É incrível o que o medo causa em nosso organismo, só mesmo vivenciando uma situação apavorante como aquela para saber porque eu estava quase mijando na calça.
- Sim, é ele – gaguejei.
- Doutor, estou ligando para avisá-lo que acabo de chegar à cidade, a primeira coisa que vou fazer aqui é pagar ao senhor o que lhe devo. Aonde posso encontrá-lo?
- Acho que não vai ser possível, estou indo viajar, já nem estou mais na cidade.
- Viajar, Doutor. Para onde?
- Alguns problemas familiares me obrigaram a ter que ir com urgência à casa de uma minha tia.
- Esses problemas familiares são em sua família ou na minha.
- Na sua? Por que eu teria problemas com sua família?
- Deixa de ser safado, Doutor, eu já sei que o senhor andou comendo minha mistura. Não o culpo, afinal ela é um espetáculo de mulher, mas é uma pena que essa será a última vez em sua vida que teve prazer com uma mulher, porque eu vou arrancar os seus grãos na faca, seu filho de rapariga...
- Não estou entendendo.
- Não está. Quando nos encontrarmos irei lhe explicar direitinho como funciona as coisas para mim e como elas deixam de funcionar. O senhor é um homem morto.
- Mas você me manda ir a sua casa cuidar de sua esposa que está doente e depois me liga para me ameaçar de morte?
- Pois como são as coisas, não é, Doutor? Tudo isso porque não gostei do tipo de injeção que o senhor usou. Vou acabar com essa seringa para que nunca mais o senhor trate uma paciente com esse tipo de medicação, seu lazarento. E se vai fugir, fuja, mas trate de ter chegado ao fim do mundo em cinco minutos, pois é isso que falta para eu chegar aí na cidade. Sei muito bem que o senhor está na rua, com uma mala nas costas, indo não se sabe para onde, junto com a safada da minha mulher. Eu vou matar vocês dois, pode escrever, Doutor.
Minhas pernas bambearam bem mais. Fui obrigado a me encostar a um muro para que não despencasse. Eu não podia crer que estava ouvindo aquilo. Que droga eu fizera de minha vida! Eu não queria morrer cedo, não. Ainda tinha tanto a conquistar nesse mundo, sem meus documentos, o que seria de mim?
- Escute aqui, não tive culpa de nada.
- Os cafajestes nunca têm culpa no cartório, espere aí na cidade para me dizer isso, seu safado. – e Valadão começou a me explicar como iria estripar-me, depois de matar a esposa na minha frente.
A cada palavra eu sentia mais vertigem como se eu já estivesse vendo a situação do crime. Eu estava sem ar, sem força até mesmo para me manter sentado. Estaria perdido, morto, se algum dia Valadão me encontrasse. Mas, é lógico, isso nunca poderia acontecer, estava certo de que Deus, mesmo me entendendo como o errado da história, haveria de me salvar. Se eu tivesse que pagar algo, que fosse depois de morto, no Inferno. Não sei por que, o Diabo me pareceu um anjo doce e delicado comparado a Valadão. Numa atitude de desespero, como quem acorda de um pesadelo, desliguei o telefone, não aguentava mais ouvir aquelas coisas todas que ele dizia.
Continuei sentado na calçada por alguns segundos, depois, com a mala nas costas, corri para a rodoviária.
Andreia estava sentada num banco solitária, num canto. Aproximei-me. Ela me encarou.
- Ele ligou para você?
Fiz que sim com a cabeça. Vi, pelos seus olhos, ela chorara. Sentei-me ao seu lado, queria passar a mão em sua cabeça, mas ainda não era o momento para expressar sentimentos diante do povo. Sentei-me ao seu lado.
- Está arrependida? – perguntei.
- Arrependida do quê? De estar deixando uma vida miserável ao lado de um homem que me tratava como um lixo? Realmente isso me entristece muito.
Algumas pessoas esperavam o mesmo ônibus que nós, olhavam-nos como se estivessem vendo fantasma ou coisa parecida. Não houvera acontecido muitos casos como aquele na cidade e certamente isso deveria ter aguçado a língua do povo. 
O ar estava pesado. Eu olhava para todos os lados morrendo de medo de ver Valadão surgir correndo com uma faca na mão e sangue nos olhos, babando de raiva e me estripando diante de toda aquela gente. O ônibus não vinha, estava atrasado dois minutos. Eu contava os segundo, nada.
Finalmente, cinco minutos depois do seu horário, vi surgir aquele enorme ônibus vermelho, as pessoas tumultuando o embarque, criança chorando, gente se despedindo, gente se cumprimentando. Nada daquilo me interessava, eu queria entrar no ônibus logo e sumir dali, não voltaria àquela cidade pelo menos nos próximos cinquenta anos.
 Finalmente entramos no ônibus. O motorista perguntou o meu destino. Virei-me para trás e olhei Andreia que, assim como eu, não fazia a menor ideia para onde iríamos. Voltei-me para o motorista e disse ponto final. Ele riscou a passagem.
- Duas – pedi.
Ele riscou outro papel. Entregou-me, paguei-o e entramos no ônibus. Sentamos no mesmo banco, eu à janela, olhava a rua, calado, temendo o momento em que Valadão surgisse correndo. Medi a altura da janela, pensando numa fuga rápida. O ônibus era alto, provavelmente eu quebraria a perna. Eu não tinha coragem de encarar Andreia. A situação estava tensa demais. Por fim o último passageiro entrou no ônibus. Pronto! Agora estávamos salvo. Mas vi, horrorizado o motorista do ônibus descer e ir à lanchonete, tomou um copo de água. Agora ele vai. Não voltou ao ônibus. Foi ao banheiro. Eu roía a unha, via o momento de Valadão surgir e nós não termos saído da cidade. Aflição, um nó estava enroscado em minha garganta.
Por fim, o motorista saiu do banheiro arrumando a calça. Voltou ao ônibus. Eu olhava pela janela desesperado. Não havia sinal de Valadão. O motorista engatou a ré, saiu da plataforma, engatou a primeira, eu consegui respirar. Quando ele dobrou a esquina para pegar a saída da cidade, segurei a mão de Andreia, estava fria. Estávamos salvos! Vi o motorista acelerar, pegar a rodovia, só aí virei-me para Andreia e pude encará-la.
- Vai dar tudo certo – disse um pouco convicto.
Volvi novamente os olhos para a janela e fui vendo a cidade ficar para trás. Eu renascia naquele momento, tudo em minha vida mudaria a partir daquele instante, nunca mais as coisas seriam iguais, nunca mais. Pensei na loucura que fizera. Como era possível? Há dois dias minha vida era chata, enfadonha, sem perspectiva de mudança e, agora, eu me via diante de uma situação completamente nova, deixando-se levar pelo vento para qualquer lugar. Aquilo estava me dando um frio na barriga, era bem mais que o medo do novo, era um pesar pelo velho e bom mundo que eu deixava para trás.
Andreia apertou minha mão. Encarei-a. Ela sorriu ainda sem graça.
- Que loucura! – disse ela.
- Nem fala!
- E agora?
- Não sei, vamos deixar o vento nos levar e ver aonde vamos parar.
- Estou com medo.
- Do quê? De Valadão?
- Não, de recomeçar.
- Eu também. Mas vamos deixar as coisas acontecerem e ver no que vai dar.
Novamente ela sorriu, vi o seu se iluminar. Naquele momento percebi que ela era a mulher de minha vida. Era. Encaixava-se perfeitamente nos padrões que eu houvera estabelecido para uma mulher perfeita. Mas aquilo não deixava de ser uma loucura, não. Eu continuava tendo a certeza de que eu houvera deixado de passar na fila de distribuição de juízo antes de vir a esse mundo. Sorri aliviado, contente, não saberia explicar. O passado morria ali, o presente acontecia e futuro se desdobrava diante de nossos olhos como uma incógnita. Mas a vida é propriamente uma incógnita, e é isso que a torna tão maravilhosa. 
Abracei Andrei com um braço e com outro segurei seu rosto. Era o final perfeito para a nossa história. Eu assistia a um filme de amor, vivia aquele filme. Eu podia até mesmo ouvir uma trilha sonora ao fundo, os créditos passando na tela e quando iria surgi a palavra FIM escrito assim, com letras maiúsculas, na cor branca, ocupando um décimo da tela, tudo mudou.
Ouvimos um carro que seguia o ônibus vindo disparado, entrar na frente do ônibus buzinando como um louco. Pude ouvir o motorista xingando. Por fim, não tendo escolha, jogou o ônibus para o acostamento, e cada vez que ele pisava no freio, parecia pisar sobre o meu coração. Eu sabia – era o FIM, não do filme, mas de nossas vidas. Coloquei a cabeça para fora da janela e vi um Valadão surgir feroz, gesticulando desordenadamente, xingando. Não vi arma alguma em sua mão, mas eu sabia, ele viera lavar sua honra.

O Fim está próximo, você acredita que Valadão irá matar os dois? Será que Romeu, nosso herói, conseguirá escapar das garras de um marido corno e valentão? Você saberá em breve.
A história está sendo escrita, colaborem, deixem suas sugestões para o final de “Os Princípios da Traição”, nos comentários.
Gente, juro que vou tentar terminar a história amanhã, mas se não conseguir, peço que me perdoem.
Obrigado, afinal esse Blog só existe por você e para você!

Quem quiser ficar antenado em todas as atualizações do Blog siga
@ninhoderisos1 

Ninho de Risos, aqui a história acontece. 

Um comentário:

Anônimo disse...

A menos que você inclua "intervenção divina" no próximo post, acho que esse Doutor vai mesmo é se lascar...

OU o final é trágico para todos os três, imagine todos os passageiros putos pelo fato da viagem estar sendo interrompida simplesmente por causa destas três pessoas? Isso acabaria em linchamento :P

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