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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um é pouco, dois é bom, três é traição 2

      
       II
Sentou-se no chão e começou a chorar. Ela nunca vira o marido chorar, em todos aqueles anos juntos, nunca vira uma só lágrima rolar do rosto do marido, nem quando sua irmã morreu. E não era falta de amor, porque ele amava aquela sua irmã, mas não chorou, não que ela tenha visto, não que alguém tivesse visto E estava certa de que o povo daquela cidade falara horrores sobre o irmão que enterrara a irmã sem derramar uma só lágrima. Agora lhe doeu ver o marido sentado sobre a grama com os olhos em lágrimas. Mas ela não poderia amolecer, a culpa daquilo tudo estar acontecendo era dele e ele sabia que era. Era por isso que estava chorando, remorso. Ela virou-se para a rua, não queria mais olhar para trás, viu o carro do seu Joaquim. Pobre do seu Joaquim, um homem tão direito, tinha uma filha que não valia o feijão que comia. Soninha era uma safada, ela sempre soubera, mas achou que pelo fato da amizade que tinham, nunca tivesse coragem de dar em cima do seu marido, mas se enganara, aquela não seria capaz de respeitar o próprio irmão se tivesse um. Dizem que já se insinuara até ao próprio pai, que a pegou de cinta, quando era mais nova. Tem mulheres que são terrivelmente safadas e não se corrigem. Mas se Bruna não cofiava na amiga, cofiara em seu marido que sempre fora homem sério e trabalhador, sempre muito atento, apaixonado... Foi realmente um choque vê-lo naquela situação... Se não tivesse visto com os seus próprios olhos não acreditaria jamais na palavra de alguém, mas ela vira. E quantas vezes será que aqueles dois se deleitavam sobre a sua cama, enquanto ela corria de um lado para o outro, atrás de suas clientes, para fazer-lhes as unhas? Quando pensava no quanto poderia ter sido enganada, durante quanto tempo, aquilo se tornava um nó em sua garganta que parecia não ir nem para cima nem para baixo.
Seu Joaquim saiu para a rua. Bruna não se via no direito de perturbar o pobre do velho falando sobre as safadezas de sua filha, quis continuar seu caminho. Mas o velho a cumprimentou sorridente. Ela o encarou. Seu Joaquim fazia alguns serviços de taxi vez em quando. Parou.
- Seu Joaquim, o senhor está ocupado?
Alberto, sentado ainda sobre o gramado, olhou estarrecido aquela cena. Não podia acreditar que Bruna estivesse contando ao velho o que acontecera, afinal ela sabia que ele estava convalescente de um enfarto, iria matá-lo num só golpe e isso seria um peso em sua vida. Ficou olhando. O velho e a mulher trocaram algumas palavras, o velho entrou para a sua casa e voltou em menos de minuto. Abriu o porta-malas do carro, enfiou a mala de Bruna, ela deu a volta e entrou na velha Belina. Ela não deveria ter contado. Levantou-se do gramado e correu em direção ao carro.
- Bruna, por favor, pense duas vezes.
- Já pensei mil.
- Meu filho – disse Seu Joaquim – deixe-a esfriar a cabeça.
- Ela não pode me abandonar, Seu Joaquim, eu a amo.
- Eu vi o seu amor por mim quando estava gritando o nome daquela vadia dentro de meu quarto.
Seu Joaquim deu de ombro como quem diria “é, meu filho, contra fatos não existem argumentos”.
Alberto sabia que ela estava certa. Se pelo menos ela não tivesse visto aquilo dentro do quarto deles a coisa seria diferente. Mas aquilo era demais para qualquer alma, ele imaginava o que ela estava passando, mas não podia desistir.
- Bruna, me ouve, por favor, volte à razão.
- Se eu voltar a razão, vou parar na cadeia por assassinato. Seu Joaquim, por favor, entre no carro e vamos embora.
Seu Joaquim entrou no carro e deu partida. Embora estivesse sentido com o fim daquele casamento não haveria nada que ele poderia dizer ou fazer para amenizar aquela briga. O melhor era deixa-la partir, isso aliviria a raiva, depois, mais tarde, quem sabe, os dois não conseguiriam se acertar. Ele sabia que isso poderia acontecer, já vivera o suficiente para ver isso acontecer inúmeras vezes, quando o amor fala mais alto as coisas podem ser mudadas. Mas, também, que idiotice do marido trazer outra mulher para dentro de casa e se deixar pegar em flagrante. Cada homem idiota nesse mundo! Acelerou o carro e as palavras de amor de Alberto ficaram para trás. Olhou para Bruna e viu que ela se derramava em lágrimas, não fizera aquilo na frente do marido porque saberia que parecia fraqueza, mas agora não conseguia se conter.
- Não chore minha filha, a vida é assim.
- Por que aquele desgraçado tinha que me trair debaixo do meu nariz? Trazer uma mulher para a nossa cama é demais para a cabeça de qualquer pessoa. Que traísse, mas tivesse a dignidade de fazer bem longe de sua casa, filho da puta.
- Às vezes, nós homens nos vemos fracos diante da tentação, minha filha. Você tem que entender, o Diabo tenta o homem mais do que a mulher, é por isso que caímos no pecado...
- Seu Joaquim, isso é desculpa machista. Ele traiu porque é um safado filho da mãe, se fosse homem mantinha a dignidade.
- Você está de cabeça quente, estou certo que vai pensar melhor depois que esfriar a sua cabeça.
Bruna virou-se, não queria conversar, preferia sofrer ao lembrar-se daquela cena da Soninha levantando-se nua de sua cama e passando por ela correndo. Ela deveria ter-lhe segurado pelos cabelos e ter dado-lhe uma surra bem dada. Mas na hora ficou tão chocada que não teve reação alguma, não conseguiu mover um só músculo para fazer nada e viu a safada correndo para fora de sua casa levando consigo o lençol que ganhara de sua mãe. Que ódio! Como deixou que ela escapasse ilesa. Se seu Joaquim fosse um homem mais forte iria lhe contar o que era a sua filha. Mas se dissesse isso, com o velho naquele estado de convalescênça, seria o mesmo que dar-lhe uma facada. As lágrimas escorriam de seus olhos, ela não queria chorar, mas não conseguia segurar, agora tinha que chorar mesmo, seria bom. 
E conforme o carro avançava, pensava em como seria a sua vida a partir daquele momento, sua vida inteira praticamente havia se dedicado aquele traste e agora sem ele o que ela faria da vida? Estava certa de que não iria querer outro homem em sua vida nem tão cedo. Para que homem? Para fazer aquele tipo de coisa, era melhor ficar sozinha do que mal acompanhada, isso era uma certeza. Continuaria a sua vida de trabalho, ficaria alguns dias em casa de seus pais, depois se aventuraria na vida, sozinha, não poderia ficar para o resto da vida atrapalhando a vida de seus pais. Ela já estava criada, eles, agora, não tinham mais nenhuma obrigação com ela, ela teria que se virar sozinha. Isso na verdade era o que a aterrorizava, como poderia viver sozinha, ela que sempre fora tão dependente, primeiro dos pais, depois do marido, aquile seria um mundo que ela precisaria conquistar, um mundo que sempre lhe deixou temerosa.
Enxugou as lágrimas quando a velha Belina do Seu Joaquim parou diante da casa de sua mãe. Ela desceu, chamou por sua mãe que saiu correndo em sua direção. Mãe sabe quando as coisas não estavam certas.
- O que aconteceu, minha filha?
Bruna não respondeu. Pegou suas malas, agradeceu ao Seu Joaquim e entrou em casa acompanhada pela mãe que, apavorada, queria saber o porquê de a filha aparecer-lhe em casa naquela hora de mala e cuia, sem o marido. Bruna sentou-se no sofá, sua mãe sentou-se ao seu lado. A filha debruçou o rosto no colo da mãe e chorou, chorou como quando era criança e algo a machucara. Chorou, enquanto sua mãe passava a mão em sua cabeça, acarinhando seus cabelos e sem fazer pergunta alguma, aquele era o momento de deixá-la chorar, o momento para saber o porquê era mais tarde quando as lágrimas secassem. 

Continua amanhã  

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