O café do Grego está tranquilo, não tem quase ninguém. Abro a porta e entro. Uma música de Djavan me recepciona. Edite está num canto, virada de costa não percebe que cheguei. O ambiente está com um aroma gostoso. Aproximo-me da mesa. Ela me olha e sorri.
- Esperou-me muito.
- Não, acabei de chegar, não faz nem cinco minutos.
Sento-me. Ela está com um ar estranho. Quer ver? Essa mulher tem bipolaridade. Na verdade não ei o que é isso, vi dia desses na televisão, achei o nome bonito. Estou dizendo que ela tem bipolaridade porque a cada momento que nos encontramos ela tem um comportamento. Vai entender essas mulheres.
- Todos cometemos nossos erros.
- O meu é imperdoável.
- Nossa! O que foi matou alguém?
- Não... Quer saber... Que se dane... Deixa isso para lá... Conta-me... O que você faz da vida?
- Sou funcionário público.
- Então você trabalha na Prefeitura, por isso você tem essa cara....
- Que cara?
- Cara de folgado! – ela ri, acho que pensa que isso foi uma piada.
Eu tenho uma birra quando as pessoas fazem esse tipo de piadinha idiota. “O seu patrão é bom, é você quem o escolhe”, “filho da Prefeitura? Pede bênção que sou um dos seus pais” “se eu não pagar o IPTU esse ano, você vai ficar bravo comigo, Rui?”. Todo mundo sempre tem uma piadinha idiota para fazer com o funcionário público. Pai, perdoai-os, eles não sabem o que dizem. Não sabem o quanto nos ferramos de segunda à sexta-feira. É claro que, talvez, um pouco mais do que nas empresas particulares, alguns funcionários vivam de enrolar no serviço, mas, sem sombra de dúvidas, esse não é o meu caso.
Eu finjo um sorriso que não a convence. Acho que percebeu que não gostei da piada. Eu devia comentar aquilo, dizer que não gostei, mas fico impassível, fujo do assunto.
- O que você faz?
- Eu? Você não iria querer saber.
- Por quê?
- Por que não é um trabalho que dê algum estatuo.
- Que isso, todo trabalho é digno.
- Será mesmo? Você diria isso a uma prostituta?
- Por que você é uma prostituta?
- Tenho cara?
- Prostituta não se conhece pela cara e conhece pelas roupas e acho que você não tem roupas de prostituta.
- Devo lhe agradecer pela delicadeza?
- Não quis ofendê-la.
- Mas você não me ofendeu, tenha certeza disso.
- Mas então me conte o que é que você faz.
- Você chegou bem perto de descobrir...
- Você não me vai dizer que é prostituta, é?
- Quase.
- Como quase. Ninguém pode ser quase uma prostituta, ou é ou não.
- Bem, eu não sou prostituta, mas vendo prazer.
- Então você é prostituta mesmo.
- Cala boca e deixa eu falar... Eu sou atendente de tele-sexo.
- Não creio.
- Verdade.
- Nunca pensei. Choquei.
- Isso muda algo mentre a gente?
- Não claro que não, isso só me deixou mais curioso.
- Curioso!? Ela usa toda a sensualidade em sua voz e sinto que ela quer ser bem clara.
- Então vamos – digo eu levantando-me da mesa. - Vou levá-la ao paraíso.
- Mal nos conhecemos.
- Está na hora de nos conhecermos melhor.
Eu não acredito. Ela se levanta e me segue. Na frente do Café do Grego pego um taxi.
Continua amanhã
Assista agora
Como chegar em uma mulher
Assista agora
Como chegar em uma mulher
Gostou?
Eu escrevi para você!
Escreva para mim.
Deixe um comentário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário