- O quê? Acampar? Nem morto.
Olha para mim, sou homem. Tenho lá cara de quem gosta de acampar? Aliás, para mim, isso é mais uma forma de masoquismo. Diga-me o que há de bom? Convença-me. Não consegue, não é? Lógico que não. A única coisa boa em acampar é voltar do acampamento. Mato, mosquito, cobra, desconforto, isso é programa de índio. Semana passada assisti um especial sobre uma tribo amazônica, vou lhe falar, vida boa a nossa. Natureza para lá, eu para cá, cada qual no seu canto, com a sua importância. O grego não tem vergonha na cara, falar que isso é “dá hora, meu!”. Primeiro lugar, quem dá as horas é o relógio. Como detesto isso! Quer falar comigo? Fala como homem! Não me venha com gírias. Às vezes, penso que tenho cara de bobo, todos gostam de pisar em meus calos. Mas, vá pisar nos deles! Acaba-se o mundo! Nunca concordam comigo. Insistem, insistem, insistem, enquanto posso, nego. São uns filhos da mãe, adoram embananar minhas idéias. Macacos peludos, isso é o que são!
Barra da Serra, um dos lugares mais lindos de que se tem notícia. Nove cachoeiras, floresta virgem, animais selvagens. Vê se pode? Há muito, estive lá e, diga-se de passagem, que sofrimento. Você não foi, não é? Terrenos íngremes, tão íngremes que um escorregão seria sorte sobrar a alma. E quem não fica traumatizado? Isso que não estou levando em conta os casos de assombrações. Sabe que não sou homem supersticioso... Muito menos medroso. Mas você há de concordar comigo, o seguro morreu de velho e velho morre em casa. Acaso você já ouviu falar de algum velho que morreu aos noventa anos, num mal sucedido salto de pára-quedas.
- Não, absolutamente, não?
- Ah, velhinho, vai ser dá hora – e vem eles com essas malditas gírias – até já encomendei umas minas pra nos fazerem companhia. Vamos?
- Peraí, despedida de solteiro? Agora a conversa é diferente.
Despedida de solteiro, última farra do homem preste a se entregar de corpo e alma ao trabalho árduo de sustentar uma família. Último pedido de um condenado à morte. Poeticamente, o adeus em seios fartos e pouca conduta. O fim, que, propriamente, pode ser o fim. Você conheceu o Ubaldo? Ele é um exemplo. Deixou de se casar por causa de uma despedida de solteiro. Vai! Homem virgem, quando sente o gosto do pecado, perde-se. Largou a noiva séria à busca duma quenga que lhe tirou o pouco que tinha. Pobre, desolado, sentou-se na porta da igreja, garrafa de cachaça, matou-se. Foi coisa de dar pena! Isso é culpa de amigos sem vergonha. Pareço o quê? Pastor! Falo sério, as más companhias nos incentivam ao pecado, a luxúria. Tem razão, é melhor parar senão acabo por convencer-me que sou santo. Você me conhece, não é? Outro dia conversando com a Débora, aquela mulher-macho, surgiu uma conversa de que homem não presta. Concordei, tive de concordar, homem não vale o feijão que come, basta que se insinue um rabo-de-saia, lá se vai a dignidade, caráter, honra, fidelidade e casamento. Isso é do homem, e homem que é homem não foge á regra. Vejo esses homens frágeis, casam, amam suas esposas, elas, como queriam machos, metem-lhe na testa um par de chifres, o bobo frágil chora, bebe, reza, até que se transforma num maricas. Isso não é homem! Sujeito desses precisa de uma boa piaba, para ver se se concerta. Mulher que chega falando de amor comigo, sai com um dicionário completo sobre sem-vergonhice. Concorda? Não seja safado, outro dia vi você escrevendo carta àquela sua esposa descarada. Deu-lhe um par de chifres e um filho de outro e ainda você tem coragem de correr atrás dela. Tome tento, homem. Ah! Quer que ela volte? Dê-lhe uma surra. Garanto que volta igual bichinho de estima, nunca mais pensa em outro. Ser corno é falta de honra no meio das pernas, rapaz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário