Distraído naquela contemplação, assustei-me quando ouvi aquele tibum do lado oposto ao que eu estava. Fiquei a espera, deveria ser uma daquelas feiosas. Não era. Tão rapidamente quanto entrou, saiu. Era loira, alta, linda, linda e estava nua. Você já imaginou como seria uma mulher perfeita? Lembrava algo como um anjo, não vou descrevê-la na sua essência puramente sacana, são impressões proibidas para menores de dezoito anos, basta saber que era linda. Como você ficaria? Hipnotizado, nadei em sua direção. Ela sorria, seu sorriso parecia o paraíso. Olhos azuis como as águas do mar, lábios vermelhos como o pecado, corpo lascivo como o de uma serpente. Por uma mulher daquelas, atravessaria os oceanos a nado. Pareço bobo, sei que qualquer esperto ficaria bobo, também.
- Oi, moça. Tudo bem? – disse saindo da água em roupas de rei tolo.
Abriu-se num sorriso, rapidamente embrenhou-se na mata. Segui-a com os olhos e depois com as pernas e depois com todo o corpo e metade das águas do lago.
Nós homens temos um problema, não podemos ver rabo-de-saia, perdemos a cabeça, imagine, então, um lindo rabo-de-saia sem a saia. Você está brincando! Acaso deveria dizer que havia uma linda mulher sem nada que lhe cobrisse as vergonhas? Faria diferença? Você lembrou-me um primo meu que vivia dizendo que “nóis divia iscreve comu a genti fala, assim num carece di iscola, tudu qui si iscrevessi tava certu”. Tudo bem não vamos esculachar, porque, não importa os complementos dos “rabo-de”, importa, sim, o substantivo em si.
Duvido você imaginar aonde fui parar. Não é difícil! Acertou. Perdido. Da moça, nem os passos, do caminho de volta, nem ideia, tantas voltas, fiquei confuso. Lógico, deveria ter prestado mais atenção ao caminho, mas, se a rainha é uma joia rara, quem vai por tento nos rubis, ouro e esmeraldas do seu trono? Escolher um caminho a seguir, no cara ou coroa, seria uma opção, se tivesse uma moeda. Meu amigo, como diz a canção “pelado, pelado, nu com a mão no bolso”. Minhas vergonhas rasgadas pelos espinhos mais baixos. Desolação. E o que faltava? Chuva! Rápida, resoluto, comecei a apontar nas quatro direções e a cantar o “minha mãe mandou escolher...”
Depois de muito andar, desiludido, rasgado e molhado encontrei um oásis, lago, areia, um lindo arco-íris partindo do lago perdia-se na floresta. Tudo calmo! A chuva cessou. Sol! Lavei-me do sangue que juntava insetos, depois, sentei-me na areia. O lago, as areias e o arco-íris vistos, agora, tão perto, me deixaram completamente bobo. Porém, mais bobo fiquei quando vi surgir a loira fugitiva do outro lado do lago, sorrindo, segurando... meu Deus!... minhas roupas. Mulherzinha sacana, iria dizer-lhe umas boas verdades.
- Moço! Oi, moço! Trouxe suas roupas, venha buscá-las.
Rapidamente levantei-me. As roupas não eram a salvação, mas o alívio. Olhei-a temeroso que fugisse novamente. Agora, seu rosto tinha algo de prazer satânico. Não é brincadeira! Nunca vi coisa mais estranha. Por que não corri? Minhas pernas pareciam pesar toneladas, um zunido estranho no ouvido. Quanto mais me aproximava, mais sentia que não a alcançaria. Ela no mesmo lugar, rindo-se a valer, cada vez mais estranha. Doía-me todo o corpo, minha pele parecia encolher. Fração de segundos, caí na areia, meu último naco de consciência só me deixou ver o arco-íris que deixei para trás e a loira sorridente caminhando em minha direção.
* * *
- Moça. Moça, acorde!
Despertei ouvindo vozes, senti a presença de várias pessoas ao meu lado. Que tortura! Minha cabeça parecia partida ao meio. Sensação de quem acorda depois de uma noite de farra e cachaça. Difícil abrir os olhos, a luz do sol queimava. Quando consegui ver claramente... Glória! Rostos conhecidos; feios, mas conhecidos.
- Ela está acordando.
Ela? Esse pronome deu-me um calafrio. De que “ela” falavam? Pensei que, lógico, a loira deveria ter desmaiado ao meu lado. Quando consegui mover-me, sentei-me na areia quente. Lagoa, praia, loira, tudo desaparecera, estava de volta ao acampamento. Meus amigos, fisionomias estranhas.
- Que foi? Tão me olhando assim, por quê?
- Calma moça. Só queremos ajudar.
Sim, estava ouvindo perfeitamente bem, tinham me chamado de moça. Caraca! Moça? Deviam estar bêbados, aliás, bêbados não, trêbados.
- Moça! Vocês estão loucos, seus retardados!
Tentei levantar, minhas pernas fracas. Deram uma mãozinha. Fiquei fulo da vida com aquela estranha ajuda. Como? Por quê? Só senti mãos em minhas nádegas. Isso é ajuda? Fossem ajudar suas vovós.
- Escuta, seus filhos da mãe, querem tirar essas mãos idiotas da minha bun...
Nesse momento, tragédia. Não consegui crer. Percebendo a dificuldade do meu corpo em manter-se ereto, equilibrado, olhei-me de cima a baixo. Não conseguiria descrever-lhe nem um décimo do que senti, de tudo que me passou pela cabeça.
Em lugar de meus definidos músculos peitorais, um par de lindos seios, os pelos do corpo desapareceram, os da cabeça, cresceram... Imagine! Que desespero quando procurei meus documentos e não o encontrei. Meu amigo, difícil crer, mas havia me transformado numa mulher. Uma mulher! Completamente mulher! Desmaiei, novamente, como fazem essas criaturas em circunstância alarmantes.
Ainda não acabou
amanhã tem mais
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