Antes de mais nada eu gostaria de dizer algumas palavras. Está virando mania, aqui no Ninho de Risos, este tipo de postagem longa, dividas em capítulos pequenos. Acredito que isso gera mais conforto para aqueles que leem nossas postagens todos os dias e cria um forte vínculo entre nós. Fique sempre a vontade para criticar, sugerir, elogiar. É um prazer ler suas palavras nos nossos comentários.
Espero que gostem desse novo conto.
Boa Leitura.
Valdir Bressane
I
Ônibus lotado. Fim de expediente. Sexta-feira. Estou sentado, não sei porque milagre, afinal todos os dias esse maldito ônibus vive lotado. Pessoas se empurram, se acotovelam, disputam um pequeno espaço em busca, principalmente, de conseguirem respirar. O cheiro de suor empesta o ar e esse é um dos maiores problemas quando o assunto é o transporte coletivo. Como tem gente fedida... mas isso não vem ao caso. O fato é que esse lugar, mesmo espremido, é um bom ponto de encontro. Lógico que não para todo mundo, apenas para os bons xavequeiros.
Entro no circular lotado. O motorista tem cara de quem comeu e não gostou. Primeira coisa que procuro é um lugar para me sentar, depois disso, um bom lugar para me sentar ao lado de uma mulher, em terceiro, um bom lugar para se sentar ao lado de uma mulher bonita. Olho os primeiros bancos, vejo uma senhora vesga, um velho com cara de sebento e fedido, atrás uma mulher com duas crianças que ela tenta manter no colo já que não pagou passagem para nenhuma delas, nem para o seu filho gorducho que tem cara de quem tem mais de sete anos. Na terceira fileira um casalzinho rindo, na quarta está ela. Uma beldade. Sentada sozinha. Ela, deselegantemente, deixou uma bolsa no banco ao seu lado, na tentativa infrutífera de manter pessoas afastadas, mas o ônibus está lotando sinal de que, mais cedo ou mais tarde, ela terá que tirar aquela bolsa de lá. Olho para ela na esperança de que me sorria convidando-me para me sentar ao seu lado. Isso não acontece. Nem ao menos olha para o lado, mantem o rosto colado ao vidro do ônibus olhando um mundo de carros que passam lá fora, junto com, provavelmente, o seu sonho de consumo que é um carro importado e não um maldito ônibus que cheira mal e onde nada acontece. Ela sabe que viajar de ônibus não é exatamente o que podemos chamar de aventura. Até que é, pensando que se você não tiver muita sorte pode acabar se estropiando, sentando-se com um maldito velho babão que fica olhando descaradamente para as suas pernas ou para o seu decote na esperança vã de um dia ter uma igual você para ele. O fato é que isso incomoda a mulher, mulher é visada dentro de ônibus ou de qualquer lugar, mulher sozinha é um convite ao xavequeiro de plantão.
Paro diante do banco e pergunto.
- Posso me sentar aqui moça? – o tom empregado na voz é o mais educado possível, até tento dar uma engrossada para parecer mais másculo, mais homem.
A mulher olha para a bolsa e puxa-a para o seu colo sem nem ao menos olhar para a minha cara. Ela está acostumada com o fato de que todo dia tem um idiota que se acha bonito e atraente e a xaveca na cara dura. Ela se fecha, faz cara feia, mesmo quando é bonita, na esperança de que assim possa afugentar qualquer engraçadinho que se ache o gostosão, o rei da cocada preta.
Sento-me na esperança de que um pouco de simpatia e falso desinteresse possa amenizar o seu mau humor repentino e fazê-la baixar a guarda.
É sempre uma questão delicada essa ideia de ser um bom xavequeiro vinte quatro horas por dia. O certo é que todo o lugar pode ser propício a um começo de relacionamento. Os pobres, quem diria, tem uma vantagem enorme em relação àquele que andam de carro – eles estão propensos a encontrar pessoas diferentes todos os dias. Isso aumenta consideravelmente a sorte de se dar bem quando o assunto é xavecar. E o xaveco... Foi-se o tempo em que era exclusividade dos homens, hoje as mulheres xavecam com a mesma cara de pau de muitos homens e elas têm uma grande vantagem, os homens são mais receptíveis ao xaveco, podendo aceitar um relacionamento, um encontro, ou simplesmente uma amizade feminina, com muito mais facilidade do que a mulher.
Eu puxo a maleta para as pernas. Olho a rua que se descortina a nossa frente e faço pose de galã de novela. Mas ela não denota a menor intensão em começar um diálogo, até fechou os olhos na esperança de, estando com os olhos fechados, o idiota ao lado não lhe perturbe. Aproveito a ocasião para medir a sua beleza. Ela está de calça jeans, aparentemente tem pernas muito bonitas. Como eu sei, se ela estava de calça? Olha, vou dizer-lhe, homem tem o dom da visão de raios-x do Super-Homem, se ele não consegue ver exatamente através da roupa, consegue imaginar muito daquilo que não está ao alcance dos seus olhos.
Ela cruzou os braços sobre a bolsa, ainda bem que não está com um maldito fone no ouvido. Os fones de ouvido são os grandes empecilhos quando se quer começar uma conversa com uma pessoa estranha. Olho o decote de sua blusa. Um decote profundo, o que denota que é uma mulher absolutamente definida. Não tem seios fartos, não. Tem seios médios, usa um sutiã de renda preto, é alguém de atitude mesmo. Não consigo divisar sua barriga para saber até que ponto ela é realmente preocupada com o seu corpo. Usa os cabelos pretos soltos, um lápis preto nos olhos, os supercílios erguidos por arte de algum cosmético, os lábios pintados levemente de uma cor avermelhada, denotando claramente que não é uma pessoa muito propensa a conversar com desconhecidos. É lógico que toda essa análise restringe-se ao meu longo conhecimento de anos do assunto, tudo vivido na prática. Vejo que suas unhas, no entanto, ostentam um vermelho berrante. Ela é dissimulada, quer parecer o que não é. Imagino que seja uma louca libertina, que nas noites de sábados, bebe como uma maluca e termine na cama do primeiro homem que lhe agradou. Mas como isso também é relativo, pode ser que essa pré-avaliação seja falha.
Ela cruzou os braços sobre a bolsa, ainda bem que não está com um maldito fone no ouvido. Os fones de ouvido são os grandes empecilhos quando se quer começar uma conversa com uma pessoa estranha. Olho o decote de sua blusa. Um decote profundo, o que denota que é uma mulher absolutamente definida. Não tem seios fartos, não. Tem seios médios, usa um sutiã de renda preto, é alguém de atitude mesmo. Não consigo divisar sua barriga para saber até que ponto ela é realmente preocupada com o seu corpo. Usa os cabelos pretos soltos, um lápis preto nos olhos, os supercílios erguidos por arte de algum cosmético, os lábios pintados levemente de uma cor avermelhada, denotando claramente que não é uma pessoa muito propensa a conversar com desconhecidos. É lógico que toda essa análise restringe-se ao meu longo conhecimento de anos do assunto, tudo vivido na prática. Vejo que suas unhas, no entanto, ostentam um vermelho berrante. Ela é dissimulada, quer parecer o que não é. Imagino que seja uma louca libertina, que nas noites de sábados, bebe como uma maluca e termine na cama do primeiro homem que lhe agradou. Mas como isso também é relativo, pode ser que essa pré-avaliação seja falha.
Cruzo minhas pernas e toco nas suas.
Continua amanhã...
Quer saber como ser um Bom Xavecador?
Assista a esse vídeo.
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