Blogs Parceiros - os melhores

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Almas Gêmeas - uma história quase romântica 4


IV
Nem tudo na vida tem explicação. Boa parte das merdas que fazemos são feitas sobre a influência do álcool, da droga, ou da sexualidade. Eu já tinha feito tanta merda na vida que se fosse juntar tudo daria para montar uma estação de tratamento só para tratar as dejetos da minha vida. Que passismo, pensará você. Não, não é pessimismo, é a realidade de uma juventude inteira entregue a momentos que pareciam ser eternos, mas que fui ver, passaram tão rápidos quanto o famoso trem bala. E algumas grandes besteiras que fazemos não tem solução, fez, está feito, não dá para voltar e apagar, passar uma borracha em tudo e fingir que nada aconteceu. Mas eu acho que de todas as merdas que fiz aquela foi a mais fedida.
O Antero foi quem mais gostou da notícia.
- Vamos nos casar.
- Vocês estão de brincadeira... só pode.
- Claro que não. Danúsa e eu decidimos isso na semana passada e agora resolvemos lhes contar.
Estávamos na casa de Antero. Fazia já mais de dois meses que Danúsa e eu estávamos juntos. Tínhamos muitas coisas em comum e, além do mais, ela era realmente a minha alma gêmea. Gostávamos das mesmas músicas, curtíamos os mesmo programas na TV e o principal era que um entendia o outro perfeitamente. Que maravilha! Nós havíamos conversado muito antes de tomar essa decisão, mesmo assim achei que foi algo impulsivo. Mas muitas vezes isso dava certo. Para mim não existia problema, a proximidade entre ela e eu, viria a diminuir a solidão que sempre sentira. Eu estava precisando, há muito. 
Telefonei à minha mãe, contei-lhe  a novidade. Ela ficou eufórica.
- Para quando é o casório?
- Daqui a duas semanas.
- Na semana que vem vou para sua casa, preciso providenciar muita coisa antes da festa e duas semanas é muito pouco tempo. Estou orgulhosa de você. E ela é bonita?
- Muito, mãe.
Preparativos para o casamento. Finalmente eu iria vestir uma roupa chique e subir ao altar. Nem mesmo eu acreditava que aquilo estava acontecendo. Eu sorria. Danúsa não quis morar em casa antes do casamento. Então eu chegava do serviço e via que aquela minha vida irresponsável estava com os dias contados. Eu iria me casar. Que legal! Estava muito empolgado, temeroso, mas empolgado.

                                               *                     *                                   *

A igreja de Nossa Senhora de alguma coisa, ficava na Rua das Palmeiras. Uma construção simples perdida nos anos, mas encantadora. Poucos convidados. Quando cheguei à igreja minha mãe olhava-me, abraçava-me e chorava.
- Mãe, é uma celebração de casamento, não missa de sétimo dia.
- É que você está tão lindo.
- Isso é motivo para chorar? Deve ter sido difícil para a senhora ter aguentado eu feio por toda a vida.
- Seu bobo, deixa-me abraçá-lo.
- De novo? A senhora vai me amassar de tanto me abraçar.
Mas ela abraçou-me assim mesmo.
Um dia memorável. Eu parecia um pinguim no maldito calor da cidade, uns 40º ou mais, com mentira e tudo. Eu suava em bica, não sei se por causa do calor ou por causa da ansiedade. Eu acho que nunca na minha vida eu estie mais nervoso. Quando estava tudo pronto entrei, o noivo, na igreja. Havia no máximo cinquenta convidados, do meu lado acho que não somavam dez, nunca tive tão bons amigos assim para chamar a uma festa de casamento. A música começou, meus passos começaram indecisos e no fim quase corri até o altar, acho que envergonhado e tímido ao mesmo tempo.
O padre era um naniquinho com cara de boa gente, sorriu e ficamos ali como bobos esperando pela noiva que provavelmente iria se atrasar. E se atrasou.
O Antero, vez ou outra, se aproximava, perguntava-me se estava tudo bem.
- Cara, você está parecendo um fantasma, pálido. Estou vendo a hora de você se estatelar no chão. Não vai desmaiar, pelo amor de Deus, ou vou ser obrigado a sacaneá-lo pelo resto de nossas vidas.
- Obrigado pelo apoio, Antero. Tudo de que eu precisava, nesse momento, era um cunhado me sacaneando.  Cadê a Danúsa?
- Ih, meu velho, não esquenta não, aquela para ir à esquina comprar pão já demorava duas horas para se arrumar, para casar vai demorar meio dia.
- Não fala isso nem brincando.
- Então, tudo bem. Eu não falo, mas que é verdade, é. Boa espera.
Era estranho eu ali naquele altar. Não me lembrava da última vez que estivera dentro de uma igreja, acho que deve ter sido na minha Crisma, quando minha mãe ainda mandava em mim e me fazia ser catequizado. Depois nunca mais pusera os pés em igreja alguma. Isso na verdade não havia me ocorrido até aquele momento, eu vivia tão bem sem religião que não via motivo para ficar todos os finais de semana enfiado dentro de uma igreja. E eu só aceitara me casar na igreja porque Danúsa era uma cristã fervorosa, quero dizer, pelo menos ia uma vez por mês assistir a uma missa e sempre que podia assistia as do Padre Marcelo pela TV. 
Eu estava sentindo meu estomago revirar como quando eu acordava de ressaca. Fazia um bom tempo que não me sentia tão ansioso. Por que eu estava tão nervoso? Afinal o casamento não era nada mais do que a concretização de uma parceria. Íamos ser parceiros na vida, seríamos sócios, teríamos filhos para cuidar, casa para comprar, uma vida juntos para administrar, só isso. Daquele momento em diante eu teria que tomar cuidado para onde dirigir o meu olhar, falar o menos possível com mulher e, em hipótese alguma, levar uma mulher para cama só porque a achei bonitinha. É, muita coisa teria que mudar em minha vida, e ali, naquele altar, eu me perguntava se realmente estava tomando a decisão correta, se estava sendo coerente ou se ficara louco. E concluí que estava com o juízo curto, bem curto. Mas era tarde demais para desistir, só sairia dali com uma baita aliança no dedo que me custara os olhos da cara, sendo chamado de marido e levando à tiracolo minha esposa. Minha esposa? Que estranho título era aquele.
Finalmente a porta dos fundos da igreja se abriu e Danúsa entrou sob o som da Ave Maria. Todos ficaram de pé, inclusive eu que já estava de pé há uma boa meia hora e sentia minhas pernas dormentes. Ela estava linda! Seu pai a conduziu. Minha mãe começou a chorar alto. O que ela pensava? Que seu filho seria devorado por um compromisso eterno? Ri do pensamento. Desci as escadas do altar, segurei a mão de minha futura esposa, cumprimentei seu pai que acabara de conhecer e subimos ao altar. 
Tudo teria sido realmente muito bonito....
Antigamente os padres, antes de declarar um casal casado, perguntava “Se alguém tem alguma coisa contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre”. Ainda bem que pararam com essa mania, senão, vou falar uma coisa, o que teria de casamentos sendo desfeito dentro da igreja não daria para contar.
Fizemos todos os ritos, já tínhamos trocado as alianças e a cerimônia já caminhava para o fim, quando de repente algo me fez arrepiar inteirinho. Ouvi uma voz dentro da igreja que falou em alto e bom tom.
- Parem esse casamento. Esse homem é o pai do meu filho.


                                                   Ainda não acabou.
                                                Tem muito mais amanhã 

Se você está ou não gostando de Almas Gêmeas - uma história quase romântica, deixe seu comentário. As suas palavras valem ouro. 


Siga nosso Blog e concorra a um exemplar de Os Normais de Greenwich de Valdir Bressane


Um comentário:

biazinhacarnaval disse...

adoreiiiiiiiiiiiii.....muito mesmo!!! to louca para saber o desfeche dessa história....Tens um modo de escrever diferenciado....ainda não sei explicar , porém gostei muito.....virei passear aqui mais vezes afinal os momentos que fiquei aqui....foram de alegrias,,,,,beijooooooooooooooooooooooo
no twitwer @biacarnaval

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Passar na OAB

Passar na OAB
Cronograma 30 dias para aprovados no Exame de Ordem da OAB