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terça-feira, 29 de junho de 2010

Desespero ao assistir ao jogo do Brasil em seu local de trabalho.

Ele está assistindo a um jogo da seleção em seu local de trabalho, o mesmo local em que preferia não estar todos os dias. De repente, ele está ali, sentado em uma cadeira desconfortável, tendo ao seu lado gente de diferentes idades e credos, cercado por mulheres que não entendem bulhufas de futebol e passam o jogo inteiro fazendo perguntas desagradáveis ou reclamando de coisas sem cabimento. Ele cutuca o colega ao lado como se ele tivesse culpa que a sua colega de trabalho é uma analfabeta do futebol.
A bola rola no meio do campo. Ele pressente uma grande oportunidade de gol, mas os analfabetos do futebol não conseguem notar isso, simplesmente só olham para o lance no seu desfecho, quando o atacante está de cara para o gol, e aí gritam como loucos, se abraçam. Mas antes do que eles considerem um lance bom, ficam falando sem parar, como um bando de maritacas. Ele gosta de gritar, também, mas, agora, está intimidado, afinal o seu chefe, o homem que ele mais odeia no mundo está ali sentado ao seu lado. Ele pensa, se esse maldito inventar de me abraçar, parto a cara dele ao meio. Vão achar que foi por causa do fulgor do jogo. Ele fica atento a tudo o que está acontecendo no grande campo, vê o seu técnico idiota na beirada do campo, aquele otário que escolhera os jogadores errados para levar à Copa. Claro, porque só ele sabe quais eram os jogador que mereciam e deveriam estar ali correndo naquele campo. E o fato de não vê-los lhe incomoda deveras.
De repente, lance bem feito, um toque, um chute e é gol do Brasil. Ele olha para o lado e vê o seu chefe odiado, olha para o outro e vê o seu patrão igualmente odiado, à frente, uma companheira de trabalho chata e indesejável, atrás outro do qual não gosta. E se convence de que, na verdade, não gosta de ninguém ali. O que fazer? Como comemorar um gol sem dar intimidade àquela gente insuportável. E ele pensa. Onde está a cervejinha, o churrasquinho? Jogo da Seleção tem que ter comemoração digna. Mas ele não pode comemorar do seu jeito, afinal, logo após o jogo mais importante da sua vida, tem de voltar a pegar no batente e mandar bala o resto do dia. E lembra-se de que é um assalariado e, como tal, não tem direito a um dia de descanso quando quer. E vai se sentindo mais triste e nem o segundo gol da Seleção faz com que se sinta melhor, nem o terceiro. Ele começa a achar que nunca assistiu a um jogo da seleção tão em graça como aquele. Que porcaria!
É aí que se levanta e procura ficar num canto mais afastado, não quer se juntar àquele bando de pessoas insuportáveis que ele distrata todos os dias. Apoia o pé na parede e fica olhando aquele televisor de 20 polegadas de longe, quase não enxergando os jogadores, não enxergando nada. O canal pega mal, há fantasmas na tela e o som é horrível. E ele se lembra daquele televidor de LCD que comprou para assistir a Copa, lembra-se do seu Home Teather que pagou 800 Reais para poder ouvir melhor a voz do Galvão Bueno gritando gol. E todos aqueles pensamentos começam a lhe incomodar e ele vai ficando nervoso, irritado, com vontade de sair correndo dali, de mandar todos às favas e desaparecer. Dane-se o trabalho, dane-se o patrão, dane-se tudo e antes de terminar o primeiro tempo ele encara o patrão.
- Quero minha demissão?
- Vai ter que esperar o jogo terminar.
- Não vou não, vou assistir ao jogo em minha casa.
E ele vira as costas e volta a sua casa, para o seu aparelho de LCD, para o seu som de última geração, sua imagem digital. E depois que o jogo termina, que já tomou mais de três cerveja sentado no sofá, levanta-se e se pergunta como é que vai poder pagar todos aqueles novos eletrodomésticos e torce para o patrão aceitá-lo de volta no dia seguinte. E promete a si mesmo que nunca mais vai fazer uma coisa tão impensada como aquela.

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