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sábado, 5 de fevereiro de 2011

O livro de um náufrago - um dia a sorte bateu em minha porta




Perguntaram-me, dias desses, diante de um mundo de câmeras e repórteres:
Qual foi o pior momento na ilha?
Foi quando a Suzana, de TPM, agarrou-me pelo pescoço e gritou em meu ouvido – Eu estou de TPM, não tem uma merda de absorvente nesse maldito lugar, então, não teste minha paciência ou eu lhe mostro o que é uma mulher fora de controle.
Deu para você ter uma ideia de que nem tudo é um Paraíso.
A minha história começa no dia 23 de Janeiro de 2005. Eu trabalhava como um simples office-boy na redação de uma revista. Sei que um serviço de boy para um sujeito de 28 anos não é grande glória, mas foi por falta de opção, depois acabei gostando do serviço e fiquei mais tempo do que devia. O serviço de um boy todos conhecem é um leva isso lá e leva isso ali que não acaba mais.
Aos vinte oito anos eu morava com meus pais, de favor, não tinha namorada e a última mulher que podia dizer que fora realmente interessante foi a Claudinha, aos quatorze anos. Depois disso minha vida amorosa, sentimental e sexual foi um desastre. As únicas coisas que gostavam de mim eram galinhas, cadelas, vacas e alguns outros animais que não ouso citar. Solidão demais. Acho que, por isso mesmo, eu gostava de trabalhar naquela redação. A revista era especializada em moda, então eu vivia às voltas com modelos lindas e maravilhosas. Dizem que um dia até a Gisele esteve na redação, mas eu não estava e não a vi e não acredito nessa história. Para você ver que eu também sofria de uma doença crítica, a falta de sorte. Aquela música dos Mamonas Assassinas que dizia “se der uma chuva de Xuxa no meu colo cai Pelé”, descrevia muito bem minha sorte.
Naquela manhã eu estava sentado esperando alguém me pedir para ir a algum lugar quando o Rodolfo, um dos maiores fotógrafos da revista me abordou.
- Ei, como é seu nome?
Olhei sem entender porque ele estava falando comigo, afinal eu era um simples zero esquerda, um nada que só tinha utilidade quando alguém queria poupar as próprias pernas, mas o Rodolfo nunca tinha me pedido nada. Eu postei-me diante dele.
- Sou o Juca, senhor.
- Juca, o que você faz aqui?
- Sou boy.
- Será que você não poderia quebrar um galho para mim?
- Se estiver ao meu alcance, senhor.
- Meu assistente sofreu um acidente de moto e amanhã eu preciso fotografar umas modelos em Fernando de Noronha, será que você não poderia me ajudar?
Fernando de Noronha? Ele só poderia estar brincando. Eu não podia entender como, de repente, a sorte poderia estar do meu lado. Sorri para ele, logo depois entendi que eu não poderia, eu era o único boy da revista, certamente ninguém poderia ficar sem mim por um, dois ou três dias.
- Eu adoraria, senhor, mas isso não depende de mim, depende do Senhor Carlos, é ele quem manda.
- Sim, mas se ele permitir você iria?
- Claro.
- Vou falar com ele, pode se preparar para irmos amanhã, ele não se negará – disse e subiu as escadarias para a redação.
Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, eu seria assistente de um fotógrafo, além de ganhar bem melhor, eu poderia, também, fazer carreira, aprender os macetes da profissão, em poucos anos tornar-me um fotógrafo também. Que maravilha! A sorte finalmente batera em minha porta, pelo menos uma vez na vida, boas notícias chegavam aos meus ouvidos. Trabalhar ganhando bem e ainda por cima só vendo mulher bonita, gostosa e famosa. O que mais eu poderia querer da vida?
Eu ria sozinho. A chata da Dona Norma, vendo-me sorrir, chamou-me a atenção.
- Você não tem o que fazer não, Juquinha? Vai procurar, não fica aí parado com essa cara de idiota.
Eu a encarei e tive vontade de lhe dizer para que aproveitasse, pois os meus dias de camelo estavam contados, eu seria assistente de fotógrafo. Chega de ir ali, ir acolá, ir para tudo quanto era lugar, agora eu só iria para os melhores lugares, com tudo pago e ainda iria ganhar por isso. Afastei-me de Dona Norma, subi as escadas até o banheiro, eu precisava olhar bem para minha cara de pobre e ver se conseguia melhorá-la com um pouco de alegria.
O banheiro estava vazio. Mirei-me no espelho. Eu até acredito que eu não era dos homens mais feios do mundo, mas faltava-me muita coisa para ser atraente, faltava eu dizer que era um fotógrafo. Apontei para a minha imagem no espelho e disse:
- Você sabe com quem está falando? Eu sou o Juquinha, assistente de fotógrafo.
O Manuel, um jornalista, entrou bem na hora em que eu estava quase beijando a minha imagem no espelho.
- O que é isso? Está ficando louco?
- Louco não, eu sou assistente de fotógrafo.
Manuel abriu a boca pasmo com aquela cena um tanto estúpida, devo confessar. Eu não fiquei para vê-lo rir da minha cara. Desci até a recepção. Rodolfo estava conversando com Dona Norma, aproximei-me como quem não quer nada. Ao notar-me, ele chamou-me. Aproximei-me.
- Juca pode se despedir de Dona Norma e dos seus amigos, a partir de amanhã, você é meu assistente. Eu já falei com o Senhor Carlos, ele mandou-me dizer que é para você ir embora, preparar suas malas. A viagem começa amanhã. Vamos sair daqui logo cedo, pegar o avião...
- Avião?
- E como você pensou que iríamos chegar a Noronha? De ônibus?
- Mas eu nunca andei de avião...
- Tudo na vida tem que ter a sua primeira vez.
Senti o meu estômago revirar, virei as costas e fui para casa.
Continua ...

Essa história se passa numa ilha de Fernando de Noronha
conheça um pouco dessa maravilha nesse vídeo
Clique aqui 


Mundo Curioso


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Um comentário:

Mirtes disse...

Virei mesmo sua fã de carteirinha e tudo!A Página de seu blog já está nos meus favoritos! Realmente gosto muito do que escreve, amei tudo por aqui e esse então, ta prometendo, pelo tema acho que vai ser bem divertido, cheinho de surpresas, com muitas situações engraçadas.
Abraços mil

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