O que responder a uma mulher que descaradamente diz que a sua esposa é uma insossa? Eu quis responder, juro, mas, minha mulher que me perdoe, faltou-me força para tal, eu já a tinha usado minha coragem e determinação inteiras para me manter afastado daquela deusa. O seu cheiro, as suas palavras penetravam pela minha narina, pela minha boca, ouvido, por cada poro do meu corpo. E eu poderia não me conter. A essa altura do campeonato, como muito homens costumam dizer, eu já tinha bebido demais. E a bebida sempre foi um dos principais agravantes nas cacas que fazemos por aí. Não vou dizer que eu não sabia o que eu estava fazendo, seria uma mentira tenebrosa, mas eu não tinha mais aquele senso moral que tinha há duas horas. Isso me preocupava, queria parar de beber para que aquilo não saísse do meu controle. Eu já havia feito tanta besteira em minha vida por conta da maldita cachaça que eu temia, com razão, o que aconteceria caso eu me aventurasse a tomar mais uma cerveja. Mantive meu copo meio cheio evitando que o Cido o enchesse e encarei a Fernandinha.
- Soube que você casou com um médico, rico e feio.
- Ele era feio? – insinuou ela. – Sabe que com tanto dinheiro eu nem tinha notado esse detalhe.
- Sua mãe deve ter ficado feliz.
- Com o quê?
- Com o seu casamento. Afinal tudo o que ela mais queria era ver você casada com um rico. Finalmente ela conseguiu.
- Não, na verdade não, ela ficou mais feliz quando nós nos separamos e eu levei metade da grana.
- Ah, você separou.
- Estou solteira.
- Sinto muito.
- Não sinta, pois eu estou adorando.
- E agora o que vai fazer?
- Voltei para cá para roubar o marido de alguém.
O Cido intrometeu-se.
- Eita que direta no queixo.
- Ãh?
- Brincadeira. E você como anda? – perguntou ela displicentemente.
- Estamos levando.
- Senti saudades de você.
Eu não disse nada. Há muito anos que eu não levava uma cantada tão direta de uma mulher. Caramba! Eu fiquei sem saber o que dizer, afinal não é todos os dias que a gente vê um grande amor do passado voltar tão decidida. Mas é claro que, se ela estivesse pensando que iria me ganhar assim, ela estava muito enganada, eu tinha uma história longa e profunda com minha esposa, não havia por onde abandonar tudo por uma mulher que se prendeu a outro homem por conta de dinheiro. E ademais, não tinha garantia alguma de que ela me seria realmente fiel. Não, absolutamente. Eu não poderia nem pensar numa coisa como aquela.
Mas me incomodava aquela mulher ao meu lado. Eu sentia um leão urrar dentro de mim, uma vontade louca de agarrá-la de beija-la. Eu sei que parece bem canalha de minha parte, mas vocês, principalmente os homens, sabem que eu fui um herói até aquele momento, pois como é difícil manter a compostura quando se está um pouco alterado pelo álcool e diante de uma mulher como aquela.
Muita coisa passava por minha cabeça e eu pesava as consequências de minhas decisões. Era óbvio que eu poderia abandonar a minha esposa com a qual eu vivera por mais de quinze anos e tentar um novo caso de amor. Eu tinha certeza que aquela decisão seria excitante. Mas a excitação acaba e, então, eu estaria ao lado de uma mulher estranha recomeçando um relacionamento. A segunda opção era manter-me em meu casamento, sem problemas, sem dores de cabeça e sem excitação, tudo igual ao que sempre foi. E embora minha cabeça girasse, eu não conseguia me focar no que era melhor para mim, eu estava ficando cada vez mais confuso, ou melhor, cada vez mais eu tendia para o lado de uma aventura amorosa, cada vez mais eu queria relembrar como era bom fazer amor com ela.
Estava absorto em meus pensamentos quando o Cido cutucou-me, olhei em seus olhos e eles estavam arregalados, ele estava assustado.
- Ih, ferrou. Zicou tudo!
Um comentário:
Bem feito, espero mesmo que seja a esposa dele e que lhe dê uma bela lição, pra que ele nunca mais esqueça e que se ferre mesmo de Verde e Amarelo...risos, Desculpe-me Valdir é que estou me colocando no lugar da esposa dele, quero que saiba que estou adorando, o seu blog é tudo de bom é bem prazeroso de se ler, parabéns! Um abraço, Mirty
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