para menores de 18 anos
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A princípio pensei que poderia ser algum tipo de mensagem onde ela queria dizer que não poderia encontrar-se comigo porque sua mãe a proibira. Mas aquele SOS era algo realmente estranho. A coisa poderia ser muito mais séria do que eu estava pensando. Afinal até que ponto uma mulher trocada pela própria filha pode chegar para lavar a sua honra? É claro que eu estava viajando um pouco, afinal, Olga tinha cara de tudo, menos de bandida. No mínimo havia proibido a filha de sair de casa pelos próximos cinquenta anos, só isso; ou amarrado-a ao pé de sua cama e trazia a chave do cadeado dentro do sutiã, como acontecia naqueles filmes que eu assistia na Sessão da Tarde; ou Manuela não tinha o que fazer e estava tirando uma onda com a minha cara.
O fato é que aquela mensagem, à princípio não me preocupou muito, uma mãe dispunha de muitos métodos não violentos para prender a própria filha em casa e estava certo de que Olga não faria nada que pudesse machucar Manuela. Ou faria?
Mesmo assim naquela manhã não consegui trabalhar direito pensando em tomar alguma atitude. Mas não conseguia discernir o que eu poderia fazer, uma vez que estava até mesmo proibido de pisar os pés na frente do prédio onde elas moravam. Eu não poderia chegar lá simplesmente e pedir para ver Manuela, ela responderia como da última vez ou chamaria a Polícia como prometera. O que eu poderia fazer então? Tentei inutilmente ligar para Manuela, mas não conseguia falar com ela.
Na hora do almoço, liguei para Olga. Ela não me atendeu. Liguei novamente e novamente até que ela resolveu atender para me dizer alguns desaforos.
- Cadê a Manuela?
- O que te importa, eu disse-lhe que você não iria ficar com ela.
- Eu exijo vê-la ou quem vai à polícia sou eu.
- Vá. Esqueceu-se de que sou a mãe dela e que você não tem um pingo de moral para reivindicar nada, nem na justiça, nem em lugar algum.
- Isso é o que veremos.
Desliguei o telefone em sua cara como ela havia feito comigo da última vez, certo de que com isso ela se sentisse emaçada e tornasse a libertar ou liberar Manuela de algum castigo infringindo. Mas naquele dia não tive notícias de Manuela e resolvi voltar ao prédio de Olga.
- Alceu – disse eu aproximando-me da portaria.
- Seo Pedro, por favor, o senhor está proibido de pôr os pés aqui. Vá embora e não me faça chamar a Polícia.
- Só me responda uma coisa. Você viu Manuela hoje?
- Não, senhor.
- A mãe a está mantendo em cárcere privado. Você precisa me deixar subir ao apartamento dela.
- Negativo, Seu Pedro, não posso. E é melhor o senhor ir embora antes que a coisa comece a feder.
- Você está sendo conivente. Olga está maltratando a filha, Alceu.
- Então chame a polícia se tem certeza disso, o fato é que não posso fazer nada.
- Você não pode...
- Posso sim, minha obrigação é resguardar a segurança e a privacidade dos moradores e mais nada, Seu Pedro. Agora, por gentileza, vai embora, antes que Dona Olga descubra que o Senhor esteve aqui e eu não chamei a Polícia.
- Tudo bem, entendo a sua posição - disse eu, vencido.
Virei as costas entrei em meu carro, mas não fui embora, precisava descobrir o que estava acontecendo dentro daquela casa. Passado quase uma hora, Olga saiu de carro, estava sozinha. Voltei à portaria.
- O senhor de novo, Seu Pedro?
- É caso de vida ou morte, Alceu. Interfona para o apartamento de Olga, se Manuela atender, pergunte se está tudo bem. Se fizer isso, juro que vou embora e não volto nunca mais.
- O senhor vai me meter em encrenca, Seu Pedro.
- Coisa bem pior pode estar acontecendo e tenho certeza de que você não quer ser cúmplice de um crime. O sumiço de Manuela está envolvido em circunstâncias chatas para lhe explicar, mas posso lhe assegurar que nesse momento ela pode estar sendo mantida refém dentro de sua própria casa.
- Eu não posso fazer nada, Seu Pedro.
- Pode sim. Eu lhe pago. Dou-lhe cem Reais só para você interfonar para o apartamento dela e confirmar se Manuela está bem ou não.
- Eu posso perder meu emprego.
- Não vai, ninguém vai saber do nosso acordo.
- Olha lá, Seu Pedro, na enrascada em que o senhor vai me meter.
- Pode ficar tranquilo que, no que depender de mim, ninguém jamais saberá que você me ajudou.
- Então, tudo bem. Cadê o dinheiro?
Tirei duas notas de cinquenta da carteira e entreguei-as a ele. Ele pegou o dinheiro, enfiou no bolso, em seguida pegou o interfone. Ninguém atendeu. Tentou novamente e nada. Aquilo com certeza preocupou-me mais ainda.
- Ela tem que estar no apartamento.
- Já fiz o que o senhor queria e como pode notar não tem ninguém em casa.
- Não tem ninguém ou quem está não pode atender.
- Dou-lhe mais cem se me deixar subir até o apartamento.
- Nem pensar, Seu Pedro, isso seria demais.
- Aqui está o dinheiro, sei que você precisa. E depois, você pode negar me ajudou, diga que eu entrei sem que você me notasse, eu confirmo a sua história, pode ficar tranquilo, não quero enfiá-lo em roubadas, só quero tirar Manuela de uma.
- Ah, Meu Deus, bem que estou precisando de uma graninha extra nesse mês, mas isso é arriscado. Se Dona Olga descobrir que facilitei a sua entrada no seu apartamento eu estarei perdido.
- Eu lhe garanto que tiro toda a culpa de suas costas.
- Então tudo bem, mas saiba que não estou fazendo isso somente pelo dinheiro mas sim , porque também começo a ficar preocupado com a menina Manuela.
- Aí, está. Então tome o seu dinheiro e me empreste a chave mestra.
- Não. O senhor já está abusando, não posso lhe emprestar a chave mestra. Isso me daria demissão por justa causa.
- Não se ninguém souber que isso aconteceu.
- Dou-lhe mais cem.
Fiquei pensando no quanto eu teria para poder comprar aquele porteiro. Meu Deus! Uma parte do meu pagamento do mês já havia sido gasto naquela compra. Consegui a chave. Subi rapidamente ao apartamento de Olga. Primeiro bati na porta. Nada. Nem um único barulho. Pensei se realmente Manuela estava com problemas ou estava me sacaneando. Mas eu já havia chegado até ali, não tinha mais como voltar sem ter tirado toda aquela história a limpo. Enfiei a chave na fechadura e lentamente abri a porta do apartamento. Entrei tomando o cuidado de encostar a porta. Aparentemente tudo estava como eu vira da última vez. O sofá, o tapete, tudo na mais perfeita ordem. Passei para a cozinha, esperando ver alguma coia que me denunciasse a presença de Manuela. Nada. Fui até a porta do seu quarto e bati. Silêncio. Procurei a chave que não estava na porta, encontrei-a sobre um balcão ao lado da pia. Enfiei a chave na porta, lentamente abri-a. Quando entrei, acendi a luz do quarto e vi algo que me gelou até o último fio de cabelo.
Amanhã tem mais
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