V
Acordei na manhã seguinte com o meu celular tocando, era Valadão.
- Bom dia.
- Ô, Doutor, a Andreia queimou de febre a noite todinha, o senhor pode vir vê-la? Eu estou de saída, deixei meu cachorro preso. O senhor pode entrar, a pobrezinha está dormindo agora.
- Mas não tem ninguém aí?
- Não, Doutor. Estou preocupado de ter que deixá-la sozinha nesse estado.
- Fique tranquilo, se eu achar que seja o caso, eu mesmo chamo uma ambulância e a levo ao hospital.
- Nossa Doutor, o senhor é muito gente boa.
- Então, está bem. Qualquer coisa o senhor me liga. Estou indo à Bahia resolver um problema com os parentes, volto em três ou quatro dias, até lá espero que o senhor fique atento a minha esposa... e não se preocupe com dinheiro.. O que for preciso eu gastar para vê-la curada, eu gastarei. Odeio minha comida, cozinho mal para caramba. Ela nem sabe a falta que me faz. O senhor entende, não é mesmo?
- Claro, a gente se acostuma com a mulher fazendo tudo, quando ela não pode fazer, ficamos perdidos.
- O Senhor me entendeu. Bem, Doutor, ela está m suas mãos, estou confiando no senhor, hein! Não me decepcione.
- Pode deixar, não o decepcionarei.
- Então tá, tchau. – disse e desligou o telefone.
Voltei a minha cama pensando na situação em que eu estava. O marido dela confiando em mim e eu pensando sacanagem com a mulher dele. Não, eu seria bem profissional, isso era tudo o que eu poderia fazer, mesmo que ela fosse uma gostosona como era eu não poderia deixar a minha perversão falar mais alto do que a minha moral. Meu celular tocou novamente.
- Pronto.
- Doutor, eu não quero que o senhor me leve a mal não, mas tenho que dizer-lhe outra coisa.
- Sim, pode falar.
- Olha, eu sou um homem estranho, não consigo conter os meus ciúmes.Tenho tanto ciúmes daquela mulher que seria capaz de matar qualquer um que se aproximasse demais dela. O senhor me entende, não é?
- Não, não entendi.
- Estou dizendo para que tome cuidado, uma gracinha e eu lhe furo de faca. Estou dizendo por dizer, sei que o senhor é homem respeitador, não é?
- Claro que sou – disse eu tremendo. – até me sinto ofendido ao ter que ouvir uma coisa dessas.
- O senhor me desculpe, não queria ter dito isso, sei que o senhor é homem sério, não vai ser idiota de se meter a besta com minha esposa, afinal, quem é que quer morrer mais cedo, não é? O senhor vai me desculpando. Até a próxima.
Desliguei o telefone trêmulo. O caboclo não dava ponto sem nó. Ele pediu desculpas, mas deixou o seu recado. E eu estava bem avisado. É lógico que eu não iria me meter a besta com ela, de forma alguma, depois de um recado como esse.
Levantei-me, vesti minha roupa, aprontei minhas coisas e fui para a farmácia. Seu Vicente já havia chegado e estava limpando a farmácia quando eu entrei. Fui diretamente para trás do balcão.
- E aí, como foi ontem com a mulher do Valadão.
- Dei-lhe uma injeção.
- Não é sobre isso que estou dizendo, estou perguntando como foi ver a mulher de Valadão assim tão de perto, com certeza em trajes inapropriados.
- O senhor sabe que sou profissional.
- E profissional não tem pinto, não? – perguntou ele rindo.
- Deixa de conversa besta, Seu Vicente, o marido é homem doido. Aliás, já me ligou hoje, quer que eu vá ver sua mulher novamente.
- E?
- E eu queria que o senhor fosse no meu lugar.
- Vou não, você é tão profissional, deve terminar o que começou.
- Quebra essa, Seu Vicente.
- Não senhor, se vire sozinho – riu novamente e saiu para a calçada empunhando a vassoura e rindo.
Eu arrumei minhas coisas e parti em direção a casa de Andreia. Eu estava fazendo tempestade em copo de água, não poderia deixar o fato de Andreia ser uma gostosona influenciar o meu trabalho. Confiante no poder da responsabilidade, abri o portão de sua casa e entrei. O cachorro latiu no fundo do quintal. Chamei-a à porta. Ela respondeu de dentro do quarto para que eu entrasse. Entrei, fui direto ao seu quarto. Andreia estava deitada, coberta, olhou para mim como fez na vez anterior e riu aquele seu riso sacana. Ignorei.
- Melhorou, Andreia?
- Ainda não, estava esperando o senhor para poder melhorar.
- Claro, quer uma nova injeção?
- Não, quer dizer, o senhor é quem sabe.
- Espere, deixe-me medir sua febre – coloquei a mão em seu rosto, estava quente. Peguei o termômetro na valise.
Andreia descobriu uma parte de seu corpo, eu quase caí duro no chão. Ela estava nua. Eu estremeci, mas continuei fingido indiferença. Enfiei o termômetro sob seu braço e a cobri novamente.
Ela estava me sacaneando. Sentei-me numa poltrona ao lado da cama.
- O Doutor é meio tímido?
Encarei-a, mas não respondi.
- Doutor, o meu mal é falta de amor.
- Deveria dizer isso ao seu marido.
- Aquele não precisa de mulher, precisa de empregada, é só para isso que eu sirvo para ele, quando ele quer sexo procura outra.
- Olha, minha senhora, isso é um problema que não posso resolver. Acredito que a senhora não sofre de mal algum. É melhor eu ir embora – disse eu me esquivando.
Mas antes que eu pudesse alcançar a porta, Andreia atirou-se a minha frente. Ela estava nua completamente.
- Aonde o Doutor vai com tanta pressa? Meu marido mandou o senhor cuidar da mulher dele, não mandou?
- Acredito que não incluía ficar de safadeza.
- Mas o senhor não gosta de safadeza?
- Não quando o marido de alguém tem quase dois metros de altura e promete lhe furar de faca caso banque o engraçadinho.
- Pois eu tenho um comunicado a lhe fazer. Se sair daqui agora, vou contar a ele que o senhor tentou me agarrar.
- Você não faria isso.
- Só não faço se o senhor me provar que é homem.
Continua amanhã...
Continua amanhã...
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