Ele trouxe a namorada para jantar. Um tipo estranho, tinha piercing no nariz, no supercílio e nas orelhas, trajava uma calça jeans rasgada e uma blusinha de malha carcomida pelo tempo. Não cheirava tão bem como deveria a uma mulher, sua língua parecia presa quando deu boa-noite. Meu filho conduziu-a à mesa onde a família estava reunida. Arnaldo, o namorado de Belinha, virou o nariz quando ela se sentou e limitou-se a desejar-lhe boa noite, assim mesmo, com o rosto virado. Ô tipinho de homem nojento aquele! Eu cruzei os cotovelos sobre a mesa e fiquei esperando Tales nos apresentar. Ele não fez nada, não disse nada e eu fiquei como um tolo esperando que alguém se pronunciasse. Como ninguém dissesse nada olhei para Iracema na esperança de que ela tomasse a vez, ela desviou o olhar para Arnaldo, que desviu para Sofia, que olhou para o gato preto no assoalho da sala de jantar, que olhou para mim. Pelo menos alguém estava querendo ser solidário. Tudo bem. Era eu quem tinha que começar a falar.
- Boa noite – disse eu quase num sussurro, esperando certamente que ninguém me respondesse ou até mesmo me escutasse. Mas a menina me lançou um sorriso cheio de piercings nos dentes. Onde mais aquela garota tinha piercing? Ao virar-se para Tales buscando certamente um apoio moral, pude ver em seu pescoço o desenho de uma fada. Que tipo de pessoa! Esse é exatamente o tipo de pessoa que qualquer bom pai teme que o seu filho encontre.
Tales encarou-me, depois olhou para a sua mãe, novamente voltou-se para mim com uma cara estranha. Vi quando sua mão procurou a mão da namorada que, até então, eu nem ao menos sabia o nome.
- Pai, a Krosar está grávida.
Vamos por partes. Primeiro: quem era a Krosar? Segundo: o que tinha eu a ver com a gravidez de alguém ou algo que nem ao menos eu sabia o que era? Tornei a encarar a menina dos piercings, entendi, desesperadamente, que Krosar era o seu nome. Krosar, isso parece nome de cerveja alemã. Beba Krosar, o sabor da Alemanha! Ou Krosar, a cerveja oficial da Oktoberfest. Krosar, meu Deus! Era por isso que aquela menina era daquele jeito, traumatizada com o próprio nome. Olhei para Tales que continuava com o olhar fixo em mim. Acho que demorei tempo demais com aquele sorriso idiota no rosto e só o desfiz quando senti a cutuvelada de Iracema certeiramente em meu rim, por debaixo da mesa.
Meu Deus, não. Meu filho havia engravidado a Krosar. Qual seria o nome que ela escolheria para os seus filhos? Já vi tantos casos de pais que inconscientemente, para se vingar das misérias que passaram em suas vidas por conta de seus nomes, acabam por se vingar em seus filhos, dando-lhe nomes lindos e mal grafados como Escarlaty, Sophyah, Phabiaany. Ô mania de querer dificultar os nomes das pessoas. Tem que grafar o nome do filho de tal jeito que quando vai fazer a matrícula da criança na escola, a escriturária pergunta – Como se escreve? – e ela com toda a cara de pau, diz. Não sei, olha aí na certidão de nascimento. Mas esse não seria o caso de meu neto... Meu neto? Meu neto!
Olhei com o senho franzido para Tales. Moleque filho de uma mãe de esquina. Tive vontade de agarrá-lo pelo pescoço, dar tanto em seu nariz, até vê-lo tão desfigurado que a tal Krosar, achando que aquilo não teria cura, fugiria apavorada, porta a fora, gritando como uma lunática, ou como alguém que usasse drogas. Aliás, ela tinha jeito de quem cheirava, ou dava umas tapas num cigarrinho do Capeta.
continua amanhã
Krosar? Que bicho é esse? 2 - Fim
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