O garoto entrou no ônibus e se sentou. Não trazia bolsa ou coisa que o valha, apenas sentou-se, tirou o celular do bolso – os celulares hoje são os radinhos de pilhas de antigamente. Procurou por algo e, logo, sua música começou a tocar em alto e bom tom. A mulher a sua frente olhou-o de cara feia, ele fingiu não ver. O motorista deu partida no ônibus e lá foram todos ao som do celular que tocava incessantemente. A mulher à frente reclamou ao colega de banco.
- O povo, hoje, não tem mais educação, vaja só. Eu sou obrigada a ouvir essa porcaria?
O homem sorriu sem jeito, virou-se para a janela e dormiu. Ele não se incomodava nenhum pouco com o barulho do celular, incomodava-se com o barulho de gente sem educação que vive reclamando de tudo e de todos. A mulher estava com raiva, quase a ponto de levantar-se e socar o rapaz do celular. Mas conteve-se. Virou-se para uma senhora de blusa azul sentada no outro lado, a qual notara que, também, não estava gostando da trilha sonora.
A senhora de blusa azul, sorriu nervosa. Era possível perceber que ela estava a ponto de explodir.
- É verdade, na minha época ( época essa que ninguém sabe exatamente qual foi) não era permitido ouvir rádio de pilha no ônibus e as pessoas respeitavam a lei. Hoje em dia é esse povo sem educação fazendo arruaça. Quer saber – disse a mulher de blusa azul, voltando-se para o rapaz do celular que estava com os olhos fechados, curtindo sua música.
A mulher cutucou o rapaz que abriu os olhos assustados.
- Dá pra você desligar essa merda aí? Não vê que está incomodando?
- Opa! - defendeu-se o rapaz. – Cadê a educação? Desde quando não se usa mais o ‘por favor’?
- Desde que vocês aprenderam a não respeitar o próximo.
- Eu não respeito? A senhora me cutuca ao invés de me chamar, diz para eu desligar essa merda e vem me cobrar educação?
- Pois isso é o máximo que a minha educação permite quando o assunto é jovem sem o mínimo de educação.
- Quer saber? Eu não desligo.
- Olha, moleque - intrometeu-se a mulher a sua frente -, tenha mais respeito. Não vê que ela é uma senhora, que tem idade para ser a sua avó?
- Vejo sim, sei que é uma senhora, e daquelas bem cricris. Não desligo não.
Um homem, sentado atrás do rapaz, intrometeu-se.
- Ô Homero, desliga isso.
- Não vou desligar, não. Você viu como ela pediu? Não desligo mesmo.
- Então vou me queixar ao motorista – disse a senhora de blusa azul. E lá foi ela se queixar ao motorista. – Motorista, tem um rapaz ali que está com uma porcaria de um celular incomodando todo mundo e não quer desligar.
- Eu não posso fazer nada senhora, eu sou só o motorista.
-Mas alguém tem que fazer alguma coisa. E já que ninguém vai fazer, faço eu – gritou a velha dentro do ônibus.
A velha de blusa azul voltou-se até onde estava o garoto e sem que ele pudesse esboçar alguma reação, tirou-lhe o celular da mão e o atirou pela janela do ônibus em movimento. O garoto ficou estarrecido, sabia quanto lhe havia custado aquele aparelho. Tanto trabalho para conseguir que seu pai o desse de presente. Sentiu o sangue correr à sua face. Levantou-se.
- A senhora vai pagar o meu celular, sua velha maluca.
- Quero me ver pagar
- A senhora não tinha o direito de fazer isso.
- E você não tinha o direito de me aborrecer com essa porcaria – disse a velha sentando-se novamente e fingindo que nada havia acontecido.
O garoto levantou-se, sua vontade era de espancar aquela velha sem educação. Mas a mão do homem que estava sentado atrás dele, seu tio, o conteve.
- Fica na sua, você procurou.
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