Madrugada de sexta-feira, três e meia, eu estou num terminal rodoviário, cercado pelo silêncio, com sono, não podendo dormir com medo de ter meus pertences roubados e, ainda por cima, só vejo gente feia desfilando de um lado para outro desse maldito corredor de vento gelado.
Não há muito para se fazer na madrugada numa rodoviária, a menos que você goste de fazer caridade e se doar para mulher feia que, em condições diferentes, jamais poderia dizer que ficou com você. Não, não é que eu esteja me achando o bonitão, porque isso eu sei que não sou, em minha casa tem espelho, embora eu pense que ele é meio ingrato comigo, ainda posso enxergar com os meus próprios olhos. E outra, a beleza é algo tão relativo quanto o tempo. Tudo bem, isso é desculpa esfarrapada, quem gosta de gente feia é cirurgião plástico. Mas vamos fingir que somos bonitos, assim é mais fácil lhe dar com os fatos.
O terminal rodoviário de Curitiba é um lugar agradável se comparado a tantos outros pelos quais passei. E olha que passei por cada lugar e em cada condição que só vendo para crer. Dormir em barraca com hippie. Casei-me num dia e desapareci no dia seguinte. Só nunca fiz filhos por aí, não que eu saiba, pelo menos. Sabe, falando em homem que faz filhos, outro dia disse a uma amiga - para vocês mulheres é tão simples saber se têm ou não um filho. Para nós não, afinal são vocês que os carregam durante nove meses, isso já é o suficiente para fazer com que nunca mais na vida se esqueçam de que tem filhos. Agora, nós homens, pobrezinhos, só podemos deduzir que de alguns buracos onde nos enfiamos existem possibilidades de ter saído alguma coisa. Mas nunca podemos afirmar, já que homem é um bicho que vive se enfiando em tudo quanto é buraco, fica complicado prever ou deduzir de qual deles sairão algumas coisas.
Assim como todos os lugares do mundo no terminal rodoviário tem espaço para mendigos, andarilhos, gente fedida, gente bonita, gente atrasada, gente retardada, gente dos mais bizarros e estranhos tipos, das mais inimagináveis conversas e tem espaço para a libido do homem. E o homem é especialista em por a sua libido para fora, embora eu não possa garantir que a palavra libido tem mesmo a ver com o que eu quero dizer. Mas não vou procurar nos dicionários porque não estou a fim de tirar essa palavra daqui, achei-a muito bonita, uma palavra terminada em “o” que é feminina, é uma coisa espetacular. Como diria o nosso querido Pasquale, é isso aí.
Eu estava cansado, quase dormindo, quando uma visão do paraíso se abriu diante dos meus olhos. Pensei que eram as portas do céu que se abriam e os seus anjos estivessem dando uma voltinha para aliviar o estresse, haviam tirado férias para dar uma voltinha pelo mundo dos homens para atormentar e tirar o sossego dos meros mortais. Ser homem não é algo de que possamos nos orgulhar, afinal de contas, andar vinte quatro horas pensando em conjunção carnal (conjunção carnal são duas palavras de belezas inigualáveis, melhor do que sexo, transa, dá um ar de intelectualismo a algo tão irracional como a conjunção carnal, como se isso fosse lá alguma coisa que precisasse de lógica e inteligência. Para isso só precisa-se de um homem e de uma mulher pelados, em público ou não). O fato é que os homens têm pensado mais em sexo, em conjunção carnal, do que no desmatamento da Floresta Amazônica. Ele fica sem floresta, sem camada de ozônio, sem oxigênio, sem mico-leão-dourado, mais não fica sem sexo. Apareça um especialista na TV dizendo que a tendência do mundo é caminhar para a escassez de sexo e haverá uma grande contestação pública por todas as partes do mundo, protestos pelo fim do sexo. Afinal isso tem sido um dos grandes motivos de termos vivido como homens e mulheres através dos tempos.
Durante muito tempo em minha vida eu fui o tipo de homem que todas as mulheres gentilmente chamam de safado, idiota, galinha. Não que eu fosse tudo isso, mas zelava pela fama que todos os homens gostam de ter, a de ser o tal, o catador. Quem nunca quis ter a fama de catador que atire a primeira pedra. O que nenhum homem gosta de ser é o virgem, o cabaço, o não-pega-ninguém, o gripe - pega, pega mas não leva ninguém pra cama. Todo homem quer ser o homem-gripe-do-porco - quem pega vai parar na cama por bons dias.
Valdir Bressane
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