Como sobreviver ao lado de uma mulher - Parte III

Estrategicamente esqueci o celular em casa, ele era uma arma contra o atraso e a demora; cinco minutos atrasados e a esposa, namorada, a “ficante”, já liga toda nervosinha “Aonde você foi parar?”. Acho que as mulheres não são desconfiadas, elas têm “certezas”, por isso acabam sufocando e tirando o ar daqueles que mais amam. Isso quando suas mães não começam a colocar caraminhola em suas cabeças. O cara que se dá bem com a sogra deve erguer as mãos para o céu e agradecer, não pela sogra, mas pelo fato de ela estar do seu lado e não contra.

- Sei não, esse seu marido é muito espertinho para o meu gosto. Você que não fica esperta!

 Eu não entendo de que lado as sogras estão. Primeiro fazem de tudo para casar as filhas, depois que as casam, aí começa a caça ao marido, o jogo se inverte e parece que fazem questão de ver a casa pegando fogo. E tem sogra que não desiste enquanto não vê a filha divorciada e amargurada como elas. É um mistério, um mistério e um tormento. Um homem nesse mundo foi feliz, ele se chamava Adão, ele não tinha sogra e nem tentação. Por isso mesmo que fez tantos filhos. Alguém saberia me dizer quantos filhos teve Adão? Mas a partir de Adão começou a involução do relacionamento, os homens estavam fadados a nascerem, crescerem, casarem e tolerar a sogra. Eu já vi casos, um amigo meu, em que ele encarou a mulher e disse “Ou sua mãe ou eu?”. No outro dia ele estava solteiro. Não adianta, a filha nunca vai contra a mãe, se quer viver sem conflitos, ou não se case, ou ignore que a sua sogra quer acabar com você, ou encontre sua esposa num orfanato.

Mas eu estava falando sobre o meu Dia Livre. Há muito eu estava pensando nisso. Não é fácil. Dez anos de casamento, cinco de namoro e nesse tempo todo nunca mais pude ter um dia só para mim. Não era egoísmo, não era desculpa esfarrapada para gandaiar. Mulheres, deem um dia Livre aos seus namorados, seus marido, seus “ficantes”, eles precisam para se sentir vivos. Mas deem o dia, não liguem, não procurem saber onde estão, o que estão fazendo, com quem, se irão chegar cedo ou tarde, deixe-os libertos do compromisso e fiquem em casa rezando para que eles não cometam nenhuma estupidez, porque o problema, é que o homem é um sujeito estúpido, bem capaz de por tudo a perder pelo primeiro rabo de saia que passar. E é por culpa desses homens sem controles que o restante da humanidade masculina sofre os horrores da opressão, é por causa desses que nós estamos fadados a ficarmos em casa assistindo aos noticiários, a chata novela das oito e ao BBB. Se não fossem eles talvez os outros relacionamentos estivessem fadados ao sucesso. Se não fossem os vacilões, nós poderíamos andar livremente pelas ruas, bares e boates sem o perigo de chegar em casa e levar uma panela de pressão na cabeça e ir parar no hospital, em coma.

O maior problema dos relacionamentos não é o fato de ser traído ou não, é o medo de que os outros saibam e você faça papel de besta. É por isso que as mulheres não acreditam na parte masculina da humanidade, não é culpa da parte masculina, mas, sim, da insegurança que impera o coração dessas frágeis criaturas, que temem, acima de tudo, serem trocadas, não por mulheres muito mais lindas do que elas, mas por mulheres infinitamente mais feias. Todas elas dizem que até seriam capazes de aceitar uma traição se a mulher em questão fosse indubitavelmente mais bela. Isso é um embuste. Não é para empolgar ninguém. Pense comigo elas dizem isso porque mulher acha defeito em outra mulher mesmo estando cem metros de distância. Mulher fareja defeito nas outras, parece que inconscientemente querem rebaixar as outras para dizer “eu não sou linda, mas olha aquela ali. Eu dou de dez a zero”. E mulher gosta de competir, gosta desse negócio de comparação, aliás, adoram, é quase uma necessidade ter que se comparar a outras mulheres.

Às vezes, quando saíamos para um passeio e começávamos a olhar para as inúmeras pessoas que passavam, e eu dizia que essa ou aquela era muito bonita, lá vinha aquele – “é, até que é bonitinha, mas dá uma olhada no tanto de celulite e estria que ela tem.” Mas isso não aconteceu com uma mulher, foram com praticamente todas com as quais convivi, inclusive as amigas, ou seja, mulher está vivendo uma competição mesmo quando não precisa ou não quer competir.

Por tudo isso é que o homem vai se sentindo sufocado, sufocado, até que num belo dia de céu azul, ele descobre que não consegue respirar, que não é mais ele próprio e que se tornou apenas aquilo que não queria. Foi assim que eu me sentia, por isso dei aquele basta e parti para um programa solo, só eu, meus amigos e uma loira (calma que a loira se chamava Antártica).

Era Sábado à tarde, duas horas.

Homem casado quando entra num bar é ovacionado pelos amigos.

- A patroa deixou você sair hoje?

Não entendo porque eles insistem em bater nessa tecla, homem nenhum é mandado pela mulher, ele simplesmente usa da sua inteligência para não criar conflitos graves, do qual sabe que não poderá escapar e somente a ele cabe se ferrar depois. Eu sorri e balancei a cabeça afirmativamente, não adianta querer contestar. 

Livre! Livre! Livre! De algum lugar aparece uma cadeira e um copo. Em dois minutos o homem, tão distante da realidade dos outros homens, está entrosado.

A primeira cerveja desce suave e calma; na segunda eu ria escancaradamente; na terceira nós contávamos piadas; na quarta fomos nos sentar nas mesas da calçada que era para ver melhor tudo o que se passava na rua, ou tudo o que passava pela rua, ou seja, mulher.

Continua a amanhã...

Coisas que só acontecem num boteco

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