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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Branca de fome 4








Mas Lampião mordeu-lhe a perna, fazendo Rainha cair no chão como uma árvore despencando. Lampião passou por cima de Rainha e correu para o lado de fora da casa. Branca e Lampião já iam longe, cobertos pela escuridão da noite, correndo pelo sertão do Ceará, sem rumo ou direção. Sem ter noção do que poderia acontecer com os dois pelo caminho.
Longas as noites de medo e escuridão que Branca passou abraçada a Lampião, com medo não de monstros fantasiados que toda criança tem medo, mas dos animais que por aí vagavam, além dos cangaceiros. Homens que não seguiam a lei, que matavam as pessoas que cruzavam o seu caminho e não obedeciam a suas ordens. Os dias quentes e secos foram uma tortura agonizante para a menina e seu cachorro, mas ambos não pararam, continuaram caminhando, sempre em frente.
Branca, depois de uma longa jornada desbravando o sertão, já se encontrava sem comida e sem água. A menina carregava Lampião em seus braços, da mesma forma quando o encontrou da primeira vez. Chutava o solo, mal enxergava seu caminho, parecia que as pernas se moviam sozinhas e levavam Branca para algum lugar. Outra fazenda.
Esta era mais verdejante que a fazenda de Rainha, porém menor. Branca parou diante das cercas que circundavam a fazenda e fitou as porteiras escoradas uma na outra. No alto da porteira havia algo escrito, mas ela não se preocupou de ler, abriu a porta e entrou.
Foi diretamente a porta da fazenda que levava a cozinha, a porta dos fundos. Lá encontrou um tonel de barro com água até a borda. Branca deitou Lampião no chão e mergulhou a cabeça no tonel. Segundos depois ela levanta a cabeça, espalhando água em seu corpo através dos cabelos molhados. Com as mãos em concha, Branca retira água do tonel e molha o corpo de Lampião, em seguida dá-lhe água na boca.
O cão bebeu avidamente todas as vezes que Branca lhe dava água na boca. Já com a sede saciada, Branca buscou pão para matar sua fome e de seu cachorro. Encontrou dez pães grandes de forno, feitos manualmente, no alto da mesa, Branca pegou dois pães. Um dos pães ela entregou ao cachorro, e outro ela comeu.
Os dois ficaram encolhidos na cozinha saciando a fome.
A noite não tardou a chegar e consigo trouxe os donos da fazenda. Branca dormia perto do tonel de barro, abraçada ao seu fiel amigo, pois ali era o local mais fresco de toda a fazenda. Finalmente a menina pode descansar devidamente por algumas horas.
As portas da cozinha se abriram quase ao mesmo tempo.
Homens de todos os tamanhos, larguras e cores surgiram. Eram sete homens, dentre eles havia um chamado Venâncio. Era o líder do bando e dono da fazenda. O homem entrou fazendo barulho juntamente com as portas e o resto do bando. Branca e Lampião acordaram num sobressalto.
Lampião late para os desconhecidos.
Branca recolhe-se atrás do cão e abraça os joelhos, com medo. Venâncio vê a menina sentada perto do pote e se aproxima apontando a velha espingarda que trazia consigo para ela. Branca começa chorar em desespero, balbucia palavras soltas tentando explicar o que lhe houve e porque estava ali, mas ninguém entendeu nada.
Um homem, mais velho do bando, de barba escura com leves falhamentos grisalhos se aproxima de Branca. Seu olhar terno fez Branca parar um pouco com as lágrimas.
-Oxe minha fia... O que foi que lhe aconteceu? – pergunta o velho.
-Eu morava mais Rainha, dona da fazenda Rai de Sol, só que aí eu discubri que ela quiria me vendê a um homem por três cabeça de gado branco. Eu fugi de lá, num sei há quanto tempo tô perambulando por aí mais Lampião, meu cachorro e único amigo! – Branca abraça o cão.
Lampião se mostrava desconfiado, mas tranqüilo.
-E cuma é seu nome? – pergunta Venâncio.
-Nome eu num sei não... Mas me chamavam de Branca.
-Pois pronto! Seu nome é Branca e diga isso quando lhe perguntarem! – Venâncio coloca a espingarda escorada no pote e ajuda a jovem a se levantar – Oxe que ninguém faz isso cum uma criança! Num vende nem pelo dinheiro do mundo intero! Ocê é órfã?
-Só sim. De pai, de mãe, de tudo nesse mundo, só num sô de amigo, porque Deus, na hora do sufoco, me deu Lampião e deu eu a ele!
-Pois agora ocê é do bando de Venâncio! – o homem transpassa um braço sobre os ombros da menina e sorri – E vô lhe apresentar todo mundo! Olhe: esse véi, barbudo, cum chapéu de côro é nosso mestre e professor, o nome dele é Vieira. Aquele dois, que mais parece um só, que a única diferença é um tem a oreia esquerda e o outo a oreia direita, se chamam João e Jango. E da esquerda pra direita, tu tem Neitor, Zé Pequeno, Chico das Pedas, Ariovaldo e Francismar.
-Vixe Maria! Qu’é gente!
-E agora nois tem uma muié, pra cuidá das coisa da fazenda! E quem diz é Venâncio: se a veia da Rainha vier lhe pegá nois recebe ela cum sal grosso! E quando Venâncio diz...
Os outros completaram.
-Tá dito! – e Branca riu folgadamente. E agora Branca morava naquela fazenda escondida pelo sertão.
A rainha estava louca, procurando Branca em todos os lugares que podia, pagando homens e mais homens para procurá-la pelas cidades próximas e assim ficou até que uma certa tarde um homem suado e gordo entrou em sua varanda. Vinha balançando freneticamente seu chapéu frente ao seu rosto, tentando diminuir o calor.
Colocou-se de pé na escada que dava acesso a varanda.
Respirava forçadamente, tal como o cavalo que o trouxera, lutando para não desmaiar de calor e cansaço. Rainha, vendo o homem em tal situação, mandou um empregado buscar um copo grande e cheio de água para o homem. Ao ver o copo cintilando a sua frente, o gordo adiantou-se e o pegou com avidez, bebendo todo o líquido em menos de três goles.
-Diga jagunço. O que foi que ocê descobriu?
-Ói minha senhora... – ele ainda ofegava.
-Rainha! – interrompeu a mulher, que era abanada por uma de suas empregadas negras, com convicção na voz.
-Rainha... Eu descobri onde está a menina Branca... – o homem apoiou-se no corrimão da escada e respirou – Ela tá escondida na fazenda dos sete cangaceiros, além do sertão, depois da prantação de cacto, já chegando em Potó Brilhante!
Rainha ficou em silêncio, pensando um pouco.
-Pois eu irei lá. Se aquele sinhorzinho do Miguel souber que Branca tá lá, vai numa carreira só atrás dela. Parece que o sinhorzinho se apaixonô pela menina Branca.
-A Rainha quer que eu mande uns cinco cabras lá?
-Não! Eu irei e levarei comigo mais três escravos. Se ela tentar fugir, eu pego ela numa chamada grande!
Rainha levantou-se e entrou, dirigindo-se até seu quarto para arquitetar o plano. Ela se disfarçaria de uma senhora pobre e idosa,pedindo água e um pouco de comida, Rainha sabia que Branca jamais negaria a uma idosa comida ou água. Ela teria a oportunidade perfeita para pegar a menina de surpresa para vendê-la ao Seu Severino assim que voltasse.
continua....


Texto:






Francisca Ayanny Pereira Costa
Todos me chamam de Ayanny.
Tenho dezoito anos, moro com meus pais em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Orgulho-me de ter nascido e de viver nesta cidade que tem tanto a revelar.
Desde os meus dois anos de idade tenho afinidade com a escrita, isso eu sei graças às observações de minha amada mãe, mas faz apenas cinco anos que entendi que eu deveria seguir a mesma direção de Machado de Assis, José de Alencar, Raú Pompeia e tantos outros escritores. Eu escrevo porque foi na littera que descobri como expressar a minha alma, quando ponho as palavras no papel é como se eu projetasse o meu espírito num outdoor. Desejo me formar em Letras, muitos já me disseram que morrerei de fome, mas tenho certeza que todos estão enganados no fim das contas. Sei que não há caminhos fáceis para se chegar em qualquer lugar, mas não significa que vou parar.
Escrever é minha paixão, meu vício, minha forma de expressar e não vou desistir dela.
Sou brasileira e não desisto nunca.


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