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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Branca de fome 3










Branca não via nada além de muita poeira e o sol forte em seu rosto. Lampião arrastava o homem pela calça através do chão quente, ele gritava e se mexia de agonia. O homem desvencilha-se de Lampião e levanta-se rapidamente, corre até seu jumento e retira uma espingarda. Aponta a arma para a cabeça de Lampião e espera o cachorro aquietar-se.
-Se ocê matar meu cachorro, eu afogo ocê na própria goela! – grita Branca, colocando-se entre o cachorro e o homem.
O homem, que na verdade era um rapaz, abaixa a arma e fita Branca. Fica pasmo com o semblante decidido da moça. Branca não era tão bela como antes. A seca, o calor e os trabalhos pesados deixaram-na feia e maltrapilha. Ao contrário do rapaz: bem vestido, com botinas engraxadas e o cabelo marrom quase penteado.
O rapaz vai até o jumento e guarda a arma.
-Como é seu nome, sinhorita? – o rapaz aproxima-se de Branca, mas fica um pouco afastado porque Lampião lhe mostrava os dentes.
-Nome eu num sei não, seu dotô... Só me chamam de Branca... – a garota manteve-se fria e direta.
-Eu num sô dotô mocinha! – brinca o rapaz.
-E eu num sô mocinha! Sô muié! E ocê? Quem é?
-Eu me chamo Miguel Lourival Sousa Rodrigues de Matos Alencar! – o rapaz falou, categoricamente, cada palavra de seu nome.
Branca deu de ombros e virou as costas para o rapaz. Voltou a encher um grande tonel de barro que logo carregaria na cabeça. Termina de encher e coloca o barril na cabeça. Lampião põe-se na frente e vai escoltando o caminho de Branca até a fazenda.
-Ei! Por que me virou as costas?! – gritou o rapaz, montado em seu jumento, tentando acompanhar os passos ligeiros de Branca, a galope.
-Ora essa! – Branca riu consigo mesma – Prum cabra que tem um nome que é quase um livro, ocê num é lá essas coisa toda não!
-Menina atrivida! Mulambenta! Num sabe com quem tá falando não?! Sô filho do coronel...
Branca interrompe parando no meio do caminho.
Ela põe uma mão na cintura.
Lampião prepara-se para um ataque.
-Num sei quem, num sei quem, num sei quem Rodrigo do Mato!!! – Branca volta a caminhar, veloz, o caminho para a fazenda. Deixando Vicentino sem palavras e se roendo de raiva da ousadia de Branca.
Após algumas semanas, Branca não viu mais Miguel todas as vezes que ia buscar água no poço. Porém andava preocupada com outra coisa: Rainha andava agindo estranha desde o aniversário de Branca de 16 anos, conversando com um homem estranho que olhava imoralmente para Branca. Rainha parecia planejar algo e Branca tinha medo de tal plano.
Certa noite, Branca sem dormir, foi até a fazenda pegar alguns restos do jantar para comer e dividir com Lampião. O cachorro vigiava a choupana silenciosamente, apenas iluminada pela luz da lua, quando Branca saíra. Lampião seguiu a amiga até a casa, sorrateiro como um rato, mas atento como um calango.
Branca vê Rainha conversando com o estranho homem barbudo. Agora ele estava provisoriamente hospedado na fazenda. Os dois conversavam sobre trocas. Branca coloca-se atrás de uma mesa rústica e observa a conversa dos dois. Lampião deita-se ao seu lado.
-Pois está feito seu Sivirino! Branca, amanhã bem cedo, vai simbora com o senhor! Em troca o senhor me dá três cabeças de gado, certo?!
-Sim sinhora! Branca é minha e meus três boi branco é da sinhora! – os dois apertam as mãos selando o contrato.
Branca assombra-se com a resolução, mas se mantém em silêncio e sai devagar da sala. Logo estava na cozinha, pegando tudo o que podia de comida, colocando em uma bolsa de couro bovino que possuía e estava atrás da porta, além de água e algumas roupas que ela guardava no armário onde ficavam os cereais. Branca tinha pressa.
Lampião esperava Branca na porta, espreitando o movimento de toda a casa. Logo Rainha surge através da porta, empurrando-a com força, Lampião esconde-se embaixo da mesa.
-Onde pensa que vai com essas coisa?! –Rainha percebe o que Branca fazia. Branca vira-se para a Rainha e coloca a bolsa nas costas.
-Vô me bora!
-Oxe! E por quê?!
-Ocê vai me vender por três cabeça de boi!!! Isso num se faz cum a pessoa que passô a vida intera trabaiando e cuidando da sinhora sem recramá nenhuma veiz! Ocê é ruim feito uma cobra criada!!! Eu vô me bora e num tem um mundo que me impate!
Rainha mexe-se para agarrar Branca pelo braço.
-De jeito manera!!! Venha cá sua cabrita!!!  – Rainha grita.

continua....


Texto:






Francisca Ayanny Pereira Costa
Todos me chamam de Ayanny.
Tenho dezoito anos, moro com meus pais em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Orgulho-me de ter nascido e de viver nesta cidade que tem tanto a revelar.
Desde os meus dois anos de idade tenho afinidade com a escrita, isso eu sei graças às observações de minha amada mãe, mas faz apenas cinco anos que entendi que eu deveria seguir a mesma direção de Machado de Assis, José de Alencar, Raú Pompeia e tantos outros escritores. Eu escrevo porque foi na littera que descobri como expressar a minha alma, quando ponho as palavras no papel é como se eu projetasse o meu espírito num outdoor. Desejo me formar em Letras, muitos já me disseram que morrerei de fome, mas tenho certeza que todos estão enganados no fim das contas. Sei que não há caminhos fáceis para se chegar em qualquer lugar, mas não significa que vou parar.
Escrever é minha paixão, meu vício, minha forma de expressar e não vou desistir dela.
Sou brasileira e não desisto nunca.


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