Blogs Parceiros - os melhores

domingo, 6 de novembro de 2011

Branca de Fome

Texto:




Francisca Ayanny Pereira Costa
Todos me chamam de Ayanny.
Tenho dezoito anos, moro com meus pais em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Orgulho-me de ter nascido e de viver nesta cidade que tem tanto a revelar.
Desde os meus dois anos de idade tenho afinidade com a escrita, isso eu sei graças às observações de minha amada mãe, mas faz apenas cinco anos que entendi que eu deveria seguir a mesma direção de Machado de Assis, José de Alencar, Raú Pompeia e tantos outros escritores. Eu escrevo porque foi na littera que descobri como expressar a minha alma, quando ponho as palavras no papel é como se eu projetasse o meu espírito num outdoor. Desejo me formar em Letras, muitos já me disseram que morrerei de fome, mas tenho certeza que todos estão enganados no fim das contas. Sei que não há caminhos fáceis para se chegar em qualquer lugar, mas não significa que vou parar.
Escrever é minha paixão, meu vício, minha forma de expressar e não vou desistir dela.
Sou brasileira e não desisto nunca.


Branca de Fome



M
orava numa casa distante, rústica e modesta. Mal tinha um local certo para dormir ou comer, os cômodos da casa se fundiam num único só. A casa era um cômodo. Além de um incômodo. Ficava nos fundos de uma fazenda. Morava de favor, servia de empregada doméstica para a dona da fazenda.
Uma viúva rica e muito egoísta. O calor intenso, a pouca chuva e a escassez de alimento deixava qualquer um duro como pedra e mais seco que um toco no meio da terra vazia. Todas as chamavam de Branca porque, mesmo andando léguas no sol, ela ainda ficava branca. Realmente Branca ficava vermelha ao chegar do poço que fica a um sexto de légua.
Era como os moradores indicavam a distância a ela.
Não sabia ler, escrever ou contar. Só sabia o suficiente para não desapontar sua patroa, que gostava de ser chamada de Rainha, por ter a maior fazenda da região. Branca tinha 15 anos de idade, agora estava aprendendo a ler com a cozinheira da casa grande. A cozinheira, chamada Tonha, tivera pena e ensinava as primeiras letras.
Branca se esforçava em tudo. Leitura, escrever e trabalhar. Possuía uma extrema dificuldade para escrever e ler, não conseguia juntar as ditas letras e formar palavras. Tampouco conseguia escrever. Era uma tarefa complexa comparada aos seus outros trabalhos: cozer, cozinhar, lavar, passar, consertar coisas e outros trabalhos.
-Oxe, Branca! Se esforce! Bora! B com A, dá?! – indagava Tonha, mostrando-lhe as letras em um papel surrado.
-B com A... B com A... – Branca levanta-se indignada consigo mesma – Eu num sei!!! Num adianta, Tonha!!! Num sei!!! Num consigo, nem que a vaca vire do avesso e cante ingual a sabiá!!!
- Dexe de bestera!!! Tu num me disse que queria lê pra virá dotora! Pois bora! Vamo! Leia ligero! Responda logo o que dá B com A!!!
- Mas eu num sei ,Tonha!!! Dessas coisa eu num entendo nem um caroço de piqui! Eu quero ser dotora, mas pra curar gente duente, não pra lê ou escrevê! – Branca batia o pé no chão de raiva que sentia.
- Mas minha fia... Se tu num lê, cuma é que tu vai saber o que tá iscrito nos papel que os duente traz quando tão duente?!
- Num sei! Eu pergunto e eles me diz o que tão sintindo! Pronto, aí eu passo o remédio e pronto!
-Oxe! E se o duente num se lembrar do nome do remédio? Cuma é que vão discobrir o diacho do remédio pra se curar?!
Branca começa a chorar. Sabe que o que Tonha diz é verdade. Sabe que vai precisar saber ler e escrever para receitar os remédios, e, principalmente, para estudar em uma Universidade de Medicina. Branca senta-se e começa a pensar, mexe no papel, olha para o alto. A jovem sempre olha para o alto quando busca uma resposta.
Uma mania, desde pequena.
- Bá! – Branca grita toda sorridente!
- Pois é isso mermo minha fia! Bá! – Tonha abraça Branca com carinho. As duas voltam a observar o papel, Branca continua treinando para memorizar bem cada nova sílaba.
- B com A, bá, B com E, bé, B com I, bi, B com O, bó, B com U, buuuu!!!!- brinca Branca fazendo careta para Tonha. A preta ria com a brincadeira, gargalhava junto com a menina.
- Branca!!! - grita a Rainha, interrompendo as risadas.
- Já vô!!! – Branca responde – Mais tarde nois treina né?
- É, minha fia! Agora vá antes que a patroa fique infezada!
Branca guarda o papel no bolso e corre em direção à sala onde a Rainha esperava impacientemente. Era o mês de setembro e estava muito quente na região, no estado do Ceará. O calor lembrava-lhe o próprio inferno na terra, Rainha abanava-se velozmente com um leque europeu que havia comprado em uma de suas viagens.
Rainha abanava-se como podia.
- Diga, Rainha! – Branca entra ofegante na sala.
-Ora sua menina atrivida!!! Esqueceu de se curvá de novo! – grita a Rainha, fechando o leque com força.
Ayanny


Continua....
                       não perca o próximo capítulo de Branca de Fome...
                           Próximo Sábado

Branca de Fome - parte 2

Um comentário:

Anônimo disse...

Which came first? chicken or the egg

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Passar na OAB

Passar na OAB
Cronograma 30 dias para aprovados no Exame de Ordem da OAB