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sábado, 12 de novembro de 2011

Branca de Fome 2

Texto:








Francisca Ayanny Pereira Costa
Todos me chamam de Ayanny.
Tenho dezoito anos, moro com meus pais em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Orgulho-me de ter nascido e de viver nesta cidade que tem tanto a revelar.
Desde os meus dois anos de idade tenho afinidade com a escrita, isso eu sei graças às observações de minha amada mãe, mas faz apenas cinco anos que entendi que eu deveria seguir a mesma direção de Machado de Assis, José de Alencar, Raú Pompeia e tantos outros escritores. Eu escrevo porque foi na littera que descobri como expressar a minha alma, quando ponho as palavras no papel é como se eu projetasse o meu espírito num outdoor. Desejo me formar em Letras, muitos já me disseram que morrerei de fome, mas tenho certeza que todos estão enganados no fim das contas. Sei que não há caminhos fáceis para se chegar em qualquer lugar, mas não significa que vou parar.
Escrever é minha paixão, meu vício, minha forma de expressar e não vou desistir dela.
Sou brasileira e não desisto nunca.


Branca de Fome 2





-Desculpe... – Branca curva-se e espera o desejo de sua senhora.
-Traga um copo de aluá bem gelado! E ligeiro! – disse a Rainha em tom imponente. Branca curva-se de novo e sai rapidamente.
Em instantes ela estava de volta com uma bandeja reluzente, onde no centro brilhava um copo de cristal cheio do aluá. Uma bebida feita a partir da casca de uma fruta cítrica, podendo essa ser uma laranja, um abacaxi ou tangerina, também conhecida como mexerica.
A Rainha saboreia a bebida com gosto, bebendo todo o líquido em poucos goles. Suspira de alívio e sorri ligeiramente para Branca, a garota percebe e sorri em agradecimento. A Rainha abre seu leque e começa a se abanar novamente, virando o rosto.
-Traga mais um copo! – ela coloca o copo sobre a bandeja, quase derrubando-o – Mais cuidado, sua lagartixa amarela! Se quebrar um copo meu, arranco sua língua com uma peixeira cega!!!
-Desculpe... – Branca volta rápido, mas com cuidado, para a cozinha e começa a preparar mais aluá. Sabia que Rainha era louca por aluá, talvez fosse à bebida que mais apreciasse, até mais que água. Por várias vezes, Branca ia e vinha, levando e trazendo copos e mais copos cheios de aluá para sua senhora. Até que ela ficara satisfeita.
Todos os dias de Branca eram assim. Trabalhando como escrava, mas sem reclamar, pois acreditava que a Rainha era boa de certo modo por lhe dá comida, água e lugar para dormir. Era o que lhe consolava quando pensava em sua situação medíocre. Suspirava enquanto caminhava pelo chão árido e seco, caminho que tomava para buscar água várias vezes ao dia. Imaginava o que poderia mudar sua vida.
Logo chegava a conclusão que nunca mudaria.
Para não se entristecer cantava para espantar os maus pensamentos.
-“Que falta me faz de um bem!
Que falta me faz de um xodó!
Mas como eu não tenho ninguém...
Eu levo a vida assim, tão só!

Mas eu só quero um amor!
Que acabe o meu sofrer!
Um xodó pra mim...
Com teu jeito, assim...
Que alegre o meu viver!”
E repetia as duas estrofes inúmeras vezes, pois não sabia o resto da música. Cantava com o coração, com alegria, sentindo que apesar de sofrer tanto era uma garota de coração de carne e sentia amor. Um amor sem dono e sem motivo, apenas amor. Logo, alguns animais curiosos apareciam para ouvir sua cantoria, apesar de sua voz não ser das mais doces ou suaves.
Mas era sincera e natural.
A voz de um coração de menina.
Dois calangos, lagartos de pele escura, fitaram Branca puxar água do poço artesiano, estavam no alto de uma pedra e ouviam atentamente a menina. Atrás dela, seu fiel escudeiro, corria levantando poeira atrás de dois gordos preás, espécimes semelhantes a ratos encontrados na caatinga. Um cachorro magro, sem raça, de pelos amarelados como o solo e dentes alvos de tanto roer ossos que encontrava pelo caminho que Branca seguia. Esse é seu escudeiro e fiel confidente.
Tinha a altura da cintura da menina.
Apesar de ossudo, o cachorro era valente e protegia Branca sempre que achava que sua amiga estava em apuros. Foi à maneira que encontrou de retribuir o bem que a menina fez a ele, depois de muito suplicar a Rainha para não matá-lo. Branca o batizou de Lampião.
O cachorro fazia jus ao nome.
Além de valente, era feroz e bom caçador. Raramente faltava carne de algum animal quando Lampião ia caçar.
-“Que falta me faz de um bem!
Que falta me faz de um xodó!
Mas como eu não tenho ninguém...
Eu levo a vida assim, tão só! – e puxava com as forças que lhe eram cabíveis um balde cheio de água.

Mas eu só quero um amor!
Que acabe o meu sofrer!
Um xodó pra mim...
Com teu jeito, assim...
Que alegre o meu viver!”- ela cantava sem se importar.
Uma gigante nuvem de poeira se formava atrás de Branca. Os calangos fugiram ao perceber o perigo, mas Branca não percebeu. Estava tranquila e concentrada em puxar os baldes de água, cantarolando uma das poucas músicas que aprendera no velho rádio. Lampião notou a poeira chegando cada vez mais perto de sua amiga, deixou a caçada para um momento mais oportuno e saiu em disparada.
Seu corpo magro e esguio lhe era útil quando precisava correr rápido e sem perder tempo. Logo estava entre Branca e a nuvem de poeira. Começou a latir como manda o figurino, avisando a amiga do perigo. Branca vira-se e vê um corpo de aproximando dela. Seu movimento foi tão rápido quando a carreira que Lampião tomara.
Segurou o balde com firmeza e atingiu na cabeça do que parecia ser um homem sobre um animal. O homem caiu no solo e o animal, que é um jumento, relinchou de susto. Lampião continuou a latir.
A confusão estava armada.



continua...


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